quinta-feira, julho 27, 2006

John Huss

Nascido (1373-1415) em Hussinec, na Boêmia, hoje Tchecoslováquia, em 1373, de uma família pobre que vivia da agricultura. Ele recebeu boa educação elementar e cursou na Universidade de Praga (capital atual da República Tcheca), onde terminou seu mestrado em Filosofia no ano de 1396. Dois anos depois, Huss começou ensinar na Universidade, e em 1401, veio a ser o seu reitor. Em 1400, Huss foi separado como padre e foi-lhe entregue a responsabilidade da prestigiada Capela de Belém. Após o casamento do rei inglês, Ricardo II da Inglaterra com Ana, filha do imperador Carlos IV da Boêmia em 1382, os ensinamentos de Wycliff foram logo introduzidos no país. Estudando-os bem de perto, Huss começou não só a pregar, como também traduzir as obras de Wycliff na língua Tcheca.

Pregador e Precursor da Reforma na Boêmia

Em 1403, Jan Huss se propôs a reformar a Igreja Romana na Boêmia, ensinando que o papado não tinha nenhuma autoridade de oferecer a remissão dos pecados através da venda de indulgências, como também questionou a legitimidade dos dois papas rivais Gregorio XII e AlexandreV. Por esta razão, em 1408, os incontentos padres e colegas da Universidade de Praga condenaram a Huss, e como resultado, foi proibido de exercer suas funções eclesiásticas em Praga. Um ano depois, ele recebe novas acusações de estar ensinando heresias; mas não para de pregar na Capela de Belém. Em 1411, Huss é excomungado de sua congregação, e todos os cultos, cerimônias de batizado e funeral foram anulados.Tal ato trouxe grande revolta nos cidadãos de Praga, os quais defenderam a Huss. O cúmulo da corrupção papal sucedeu em 1412, quando João XXIII lançou uma cruzada contra o Rei Ladislau de Nápoles, e ofereceu a remissão completa de pecados a todos os que participassem na guerra, ou a venda da indulgência para os que a suportassem. Ao ouvir tal notícia contrária a todos os preceitos bíblicos, Huss se levanta e ataca o papado de usar sanções espirituais e indulgências para fins pessoais e políticos. Em contra-ataque, Jan Huss foi excomungado de Roma e obrigado a deixar Praga.

A Intimidação Se Inicia

Durante o seu exílio, Huss teve a oportunidade de concluir uma de suas obras mais importantes, “De Ecclesia”. No ano de 1414, os líderes da Igreja Romana se reuniram para um Concílio em Constança (atualmente na Alemanha), e John Huss foi convocado a comparecer a fim de esclarecer seus ensinos controversiais com o da Igreja. O imperador Boêmio, Sigismund, prometeu salvo-conduto, mas, após um mês em Constança, os seguidores do Papa João XXIII o prenderam, e ele foi impelido pelo Concílio de se retratar. Huss permanceceu preso durante os sete meses de seu julgamento, e pouca oportunidade foi-lhe dada de se defender. Por não voltar atrás, Jan Huss foi condenado como hereje, despido e queimado na estaca fora da cidade no dia 6 de julho de 1415.

Huss morreu cantando o hino em grego “Kyrie eleeson” (Senhor, tem misericórdia). O local de sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial. Como Wycliff, Huss lutou pela reforma da Igreja pagando o preço com sua vida. Os perseguidores destruíram o corpo, mas não os ensinos de Huss, que foi espalhado por toda a Europa por seus discípulos mais radicais, conhecidos como Taboritas. Estes rejeitaram tudo na fé e na prática da Igreja Romana que não se encontrasse na Bíblia. Destes discípulos surgiu a Igreja Moraviana, a qual tornou-se mais tarde numa das igrejas de mais visão missionária da História da Igreja. O resultado do trabalho de Huss e de tantos outros foi vista um século depois, na pessoa de Lutero.

Fonte: http://www.sepoangol.org

Jonathan Edwards (1703-1758)




Por Christopher Walker

Jonathan Edwards (1703-1758) é conhecido, talvez, mais do que tudo por causa de um sermão que pregou em 1741, Pecadores nas Mãos de um Deus Irado. Em 1734, alguns anos depois de assumir o pastorado da igreja do seu avô em Northampton, estado de Massachusetts, EUA, suas pregações foram usadas por Deus para iniciar o Grande Despertamento naquela igreja e região. Posteriormente, o famoso pregador George Whitefield foi o instrumento que ampliou e estendeu este mover em outras partes das colônias norte-americanas.

Na verdade, a grande contribuição de Edwards não foi tanto através de suas pregações. Seu sermão famoso nem foi muito típico da maioria das suas mensagens. Geralmente, falava em tom baixo, com dignidade, porém, com grande ênfase. Sua voz não era muito apropriada para pregar a grandes multidões. Nunca utilizava tons altos ou gestos exagerados para comunicar suas idéias, mas dependia de figuras dramáticas de linguagem e argumentação lógica para convencer seus ouvintes.

Policarpo (70-156)




by Vania DaSilva



Nascido em uma família cristã por volta dos anos 70, na Ásia Menor (hoje Turquia), Policarpo dizia ser discípulo do Apóstolo João. Em sua juventude costumava se sentar aos pés do Apóstolo do amor. Também teve a oportunidade de conhecer Irineu, o mais importante erudito cristão do final do segundo século. Inácio de Antioquia, em seu trajeto para o martírio romano em 116, escreveu cartas para Policarpo e para a Igreja de Esmirna. Nos dias do Papa Aniceto, Policarpo visitou Roma, a fim de representar as igrejas da Ásia Menor que observavam a Páscoa no dia 14 do mês de Nisan. Apesar de não chegar a um acordo com o papa sobre este assunto, ambos mantiveram uma amizade. Ainda estando em Roma, Policarpo conheceu alguns hereges da seita dos Valencianos, e encontrou-se com Márcio, o qual Policarpo denominava de “primogênito de Satanás”.



A Carta

Apesar de escrever várias cartas, a única preservada até a data, foi a endereçada aos Filipenses no ano 110. Nesta carta, Policarpo enfatiza a fé em Cristo, e o desenvolvimento da mesma através do trabalho para Cristo na vida diária. Também faz alusão à carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses e usa citações diretas e indiretas do Velho e Novo Testamento, atestando-os como canônicos. Na mesma carta, ele repete muitas informações recebidas dos apóstolos, especialmente de João. Por isto, ele é uma testemunha valiosa da vida e da obra da Igreja primitiva no segundo século. Policarpo exorta os Filipenses a uma vida virtuosa, às boas obras e à firmeza, mesmo ao preço de morte, se necessária, uma vez que tinham sido salvos pela fé em Cristo. As 60 citações do Novo Testamento, das quais 34 são dos escritos de Paulo, evidenciam seu profundo conhecimento da Epístola do Apóstolo aos Filipenses e outras do mesmo Testamento. Ao contrário de Inácio, Policarpo não estava interessado em administração eclesiástica, mas antes em fortalecer a vida diária prática dos cristãos.



O Martírio

O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua morte, em uma carta enviada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio. Este registro é o mais antigo martirológio cristão existente. Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades civis tentaram persuadí-lo a abandonar sua fé em sua avançada idade, a fim de alcançar sua liberdade. Ele entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um crente”! No ano 156, em Esmirna, Policarpo é colocado na fogueira. Milagrosamente as chamas não o queimaram. Seus inimigos, então, o apunhalaram até a morte e depois queimaram o seu corpo numa estaca. Depois de tudo terminado, seus discípulos tomaram o restante de seus ossos e o colocaram em uma sepultura apropriada. Segundo a história, os judeus estavam tão ávidos pela morte de Policarpo quanto os pagãos, por causa de sua defesa contra as heresias.

Fonte:http://www.sepoangol.org/

quarta-feira, julho 26, 2006

Ashbel Green Simonton (1833-1867)





Ashbel Green Simonton, o fundador da Igreja Presbiteriana do Brasil, nasceu em West Hanover, no sul da Pensilvânia, e passou a infância na fazenda da família, denominada Antigua. Eram seus pais o médico e político William Simonton e D. Martha Davis Snodgrass (1791-1862), filha de um pastor presbiteriano. Ashbel era o mais novo de nove irmãos. Os irmãos homens (William, John, James, Thomas e Ashbel) costumavam denominar-se os "quinque fratres" (cinco irmãos). Um deles, James Snodgrass Simonton, quatro anos mais velho que Ashbel, viveu por três anos no Brasil e foi professor na cidade de Vassouras, no Rio de Janeiro. Uma das quatro irmãs, Elizabeth Wiggins Simonton (1822-1879), conhecida como Lille, veio a casar-se com o Rev. Alexander Latimer Blackford, vindo com ele para o Brasil.

Em 1846, a família mudou-se para Harrisburg, a capital do estado, onde Ashbel concluiu os estudos secundários. Após formar-se no Colégio de Nova Jersey (a futura Universidade de Princeton), em 1852, o jovem passou cerca de um ano e meio no Mississipi, trabalhando como professor. Voltando para o seu estado, teve profunda experiência religiosa durante um avivamento em 1855 e ingressou no Seminário de Princeton, fundado em 1812. No primeiro semestre de estudos, ouviu na capela do seminário um sermão do Dr. Charles Hodge, um dos seus professores, que despertou o seu interesse pela obra missionária no exterior. Concluídos os estudos, foi ordenado em 1859 e chegou ao Brasil no dia 12 de agosto do mesmo ano.

Pouco depois de organizar a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (12/01/1862), o jovem missionário seguiu em viagem de férias para os Estados Unidos, vindo a casar-se com Helen Murdoch, em Baltimore. Regressaram ao Brasil em julho de 1863. No final de junho do ano seguinte, Helen faleceu nove dias após o nascimento da sua filhinha, que recebeu o seu nome. Helen Murdoch Simonton, a filha única do Rev. Simonton, nunca se casou e faleceu aos 88 anos no dia 7 de janeiro de 1952. Com o passar dos anos, Simonton criou o jornal Imprensa Evangélica (1864), organizou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e fundou o Seminário Primitivo (1867), este último localizado em um edifício de vários pavimentos junto ao Campo de Santana.

No final de 1867, sentindo-se adoentado, o missionário pioneiro seguiu para São Paulo, onde sua irmã e seu cunhado criavam a pequena Helen. Seu estado de saúde agravou-se e ele veio a falecer no dia 9 de dezembro, acometido de "febre biliosa", conforme consta do seu registro de sepultamento. Seu túmulo foi um dos primeiros do ainda recente Cemitério dos Protestantes, no bairro da Consolação. Anos depois, foram sepultados perto dele os ossos do ex-sacerdote Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), o primeiro pastor evangélico brasileiro. Simonton e Conceição, um americano e um brasileiro, foram os personagens mais notáveis dos primórdios do presbiterianismo no Brasil.

João Ferreira de Almeida (1628 - 1691)


"Conhecido pela autoria de uma das mais lidas traduções da Bíblia em português, ele teve uma vida movimentada e morreu sem terminar a tarefa que abraçou ainda muito jovem." 

Entre a grande maioria dos evangélicos do Brasil, o nome de João Ferreira de Almeida está intimamente ligado às Escrituras Sagradas. Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil - a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada - a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País, segundo pesquisa promovida por A Bíblia no Brasil (ver número 158).

Se a obra é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, se tem falado a respeito deste português da cidade de Torres de Tavares, que morreu há 300 anos na Batávia (atual ilha de Java, Indonésia). O que se conhece hoje da vida de Almeida está registrado na "Dedicatória" de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas (Presbiterianas) do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII.

De acordo com esses registros, em 1642, aos 14 anos [nasceu em 1628], João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal para viver em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa local.

Tradutor aos 16 anos

Dois anos depois [aos 16 anos de idade, somente!], começou a traduzir para o português, por iniciativa própria, parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em espanhol. Além da Versão Espanhola [de Reyna, 1569], Almeida usou como fontes nessa tradução as Versões Latina (de Beza), Francesa [Genebra, 1588] e Italiana [Diodati 1641] - todas elas traduzidas do grego e do hebraico. Terminada em 1645 [quando Almeida tinha somente 17 anos], essa tradução de Almeida não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Mais tarde, Almeida tornou-se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação.

No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações presbiterianas, era o mais falado em muitas partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, "para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação".

Perseguido pela Inquisição, ameaçado por um elefante

O tradutor permaneceu em Málaca até 1651 [23 anos de idade], quando se transferiu para o Presbitério da Batávia, na cidade de Djacarta. Lá, foi aceito mais uma vez como capelão, começou a estudar teologia e, durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução das partes do Novo Testamento feita anteriormente. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656 [aos 28 anos], ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus.

Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de "superstições papistas", que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as idéias fortemente anti-católicas do tradutor.

A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranqüilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.

Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou-se. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrécia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina.

Idéias e personalidade

A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas idéias e personalidade. Entre outras coisas, Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Em outras ocasiões, propôs que os pobres que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigação de freqüentá-la e de ir às aulas de catecismo. Também se ofereceu para visitar os escravos da Companhia das Índias nos bairros em que moravam, para lhes dar aulas de religião - sugestão que não foi aceita pelo presbitério - e, com muita freqüência, alertava a congregação a respeito das "influências papistas".

Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado - ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda.

Exemplares destruídos

Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais - mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país.

Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto.
Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.

Ezequiel 48.21

Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar com o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada - pelo menos desde 1670, segundo os registros --, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em 1691 [aos 63 anos de idade], no mês de outubro, Almeida morreu. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ezequiel 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.


Fonte: A Bíblia no Brasil, nº. 160, 1992, p. 14.

Andrew Murray

Andrew Murray nasceu na África do Sul, em 9 de maio de 1828, e morreu em 1917. Seu pai era pastor vinculado à Igreja Presbiteriana da Escócia, que, por sua vez, mantinha estreita relação com a Igreja Reformada da Holanda, o que foi importante para impressionar Murray com o fervoroso espírito cristão holandês. Andrew experimentou o novo nascimento aos 16 anos, na Holanda. Após isso, dedicou muito tempo, muitas madrugadas, a orar por um avivamento em seu país e a ler sobre experiências desse tipo ocorridas em outros países.

Foi para a Inglaterra com 10 anos e quando retornou para a África do Sul como pastor e evangelista, levou consigo um reavivamento que abalou o país. Seu ministério enfatizava especialmente a necessidade de os cristãos habitarem em Cristo. Isso foi despertado especialmente quando, ao voltar para a África, deparou-se com a grande extensão geográfica em que deveria ministrar. Aí começou a sentir necessidade de uma vida cristã mais profunda. Murray aprendeu suas mais preciosas lições espirituais por meio da Escola do Sofrimento, principalmente após uma séria enfermidade. Sua filha testificou que, após essa doença, seu pai manifestava “constante ternura, serena benevolência e pensamento altruísta”. Essa foi uma expressão de sua fé simples em Cristo e a Ele rendida.

Seu ministério, pela influência recebida do pai, foi caracterizado por profunda e ardente espiritualidade e por ação social. Em 1877, viajou pela primeira vez aos Estados Unidos e participou de muitas conferências de santidade nos EUA e na Europa. Sua teologia era conservadora, e se opunha francamente ao liberalismo. Em seus livros, enfatizou a consagração integral e absoluta a Deus, a oração e a santidade.

Durante os últimos 28 anos de sua vida, foi considerado o pai do Movimento Keswick da África do Sul. Muito dos aspectos místicos de sua obra deve-se à influência de William Law. Murray, assim como Law, Madame Guyon, Jessie Penn-Lewis e T. Austin-Sparks, experimentou o Senhor de forma muito profunda e se tornou um dos mais proeminentes no movimento da vida interior.

Foi acometido de uma infecção na garganta em 1879, a qual o deixou sem voz por quase dois anos. Foi curado dela na casa de uma família cristã em Londres. Como resultado dessa experiência, veio a crer que os dons miraculosos do Espírito Santo não se limitavam à igreja primitiva. Para ele, uma das características da vida vitoriosa era uma profunda e silenciosa percepção de Deus e uma intensa devoção a ele.

Por crer no que Deus pode fazer por meio da obra de literatura, Murray escreveu mais de 250 livros e inúmeros artigos. Sua obra tocou e toca a Igreja no mundo inteiro por meio de escritos profundos, incluindo The Spirit of Christ (O Espírito de Cristo), The Holiest of All (O Mais Santo de Todos), With Christ in the School of Prayer (Com Cristo na Escola de Oração), Abide in Christ (Habite em Cristo), Raising Your Children for Christ (Criando Seus Filhos para Cristo) e Humildade, os quais são considerados clássicos da literatura cristã. Entre tantos que foram ajudados por ele, podemos mencionar Watchman Nee, cujas obras O Homem Espiritual e O Poder Latente da Alma trazem marcas do pensamento de Murray.

(Extraído do livro Humildade – A Beleza da Santidade. © Editora dos Clássicos, 2000.)

Theodore Austin-Sparks (1910-1971)

Theodore Austin-Sparks converteu-se aos dezessete anos, ao ouvir uma pregação de rua em Glasgow, na Escócia. Dessa forma, iniciou-se uma vida de pregação do Evangelho que durou sessenta e cinco anos. Sparks nasceu em 1910, numa cidade escocesa. Sua mãe conhecia o Senhor e O amava, pois era uma mulher de oração. Theodore cresceu num lar em que sempre havia reuniões de oração, no qual se cria que a Palavra de Deus é a autoridade máxima em todas as questões e no qual se esperava a volta do Senhor Jesus. Sua mãe teve grande influência em sua vida.

Naqueles dias, um dos maiores pregadores na Inglaterra, Dr. G. Campbell Morgan, desejando ajudar a um grupo de jovens no estudo da Palavra, passou a se reunir com eles todas as sextas-feiras, dando-lhes vários estudos bíblicos. Por 52 semanas, Campbell Morgan se reuniu com esses jovens e, dentre os mais brilhantes, estava T. Austin-Sparks. Por esse motivo, ele passou a ser sempre requisitado como preletor em várias Conferências.

Certa vez, ao ministrar numa igreja batista, ele viu uma tremenda mudança vindo sobre toda a congregação. Um após o outro, dentre os conhecidos ali como cristãos, foram sendo salvos. A secretária da igreja, os diáconos, todos foram encontrando o Senhor. Mas, apesar de T. Austin-Sparks ser um conferencista nacionalmente conhecido e requisitado, e apesar de ser um jovem com tanto futuro, ele mesmo sentia uma terrível pobreza em sua vida. Ele sentia que estava proclamando coisas que, na realidade, não eram experiências suas. Ele não tinha dúvidas de que era nascido de novo, mas sentia que estava pregando coisas que ele mesmo não experimentava. Por natureza, Sparks era alguém que se entregava completamente ao que cria, nunca se contentando com uma posição intermediária. Por isso, começou a se sentir um fracasso, pois o que lia na Bíblia não era, para ele, uma experiência própria.



Certo dia, então, ele disse à sua esposa: "Eu vou para meu estúdio; não quero que ninguém me interrompa. Não importa o que aconteça, eu não sairei daquele quarto até que tenha decidido qual caminho vou tomar". Ele sentia imensamente a necessidade de que o Senhor o encontrasse de forma nova, ou cria que não poderia mais continuar seu ministério. Havia chegado ao final de si mesmo.



Fechado naquele quarto, ele passou a maior parte do dia quieto diante do Senhor, e então, começou a ler a carta aos romanos. Nada aconteceu. Ele a conhecia muito bem, pois a havia ensinado tantas vezes e dava esboços dessa porção das Escrituras. Nada de novo ela lhe apresentava, até que ele chegou ao capítulo 6. Ele mesmo disse: "Foi como se o céu tivesse se aberto, e luz brilhou em meu coração." Pela primeira vez ele compreendeu que havia sido crucificado com Cristo e que o Espírito Santo estava nele e sobre ele para reproduzir a natureza de Cristo. Isso revolucionou completamente a vida de Sparks. Quando saiu daquele quarto, ele era um homem transformado. A partir daquele momento, ele começou realmente a pregar a Cristo, começou a magnificar o Senhor Jesus.



Logo começou a ensinar o que chamava de "o caminho da cruz", dando grande ênfase à necessidade da operação interior da cruz na vida do crente. Ele mesmo havia passado por uma crise e aceito o veredito da cruz sobre sua velha natureza, percebendo que essa crise fora a introdução para um desfrutar completamente novo da vida de Cristo, tão grandioso que ele só conseguia descrevê-lo como "um céu aberto".



Sparks recebeu também grande ajuda espiritual da Sra. Jessie Penn-Lewis, a quem o Senhor dera um claro entendimento sobre a necessidade da operação interior da cruz na vida do crente. Ela viu em T. Austin-Sparks o herdeiro de toda a obra que o Senhor lhe havia dado. Sparks se tornou um pregador e mestre muito querido e popular no meio do chamado "Movimento Vencedor".Mas a experiência que Sparks tinha, em vez de lhe abrir as portas para todos os púlpitos, fechou a maioria delas. Os líderes o temiam, pois achavam que algo estranho, perigoso e errado havia lhe acontecido. E assim começaram a opor-se a ele.



Houve um momento em que ele ficou na rua, sem casa para morar com a esposa e filhos, mas o Senhor logo lhe providenciou uma moradia, na rua Honor Oak. Uma senhora que servia ao Senhor como missionária na Índia e havia sido grandemente ajudada através do ministério de Sparks, ouviu dizer de uma grande escola na rua Honor Oak que estava à venda. Então, comprou toda a propriedade e a deu à igreja. Ali veio a ser um local de comunhão cristã e a sede de conferências Honor Oak. Esse foi o lugar onde conferências eram realizadas três ou quatro vezes ao ano, para as quais vinham pessoas de toda a parte.



Em 1937, Watchman Nee se encontrou pela primeira vez com Sparks. Nee havia lido alguns escritos seus e fora grandemente ajudado. Logo após, porém, começou a 2ª Guerra Mundial, e aquelas conferências cessaram, pois o mundo todo estava em turbulência. Todavia, ao terminar a guerra houve um período maravilhoso na história daquela obra e ministério. De 1946 até 1950 houve conferências cheias da presença do Senhor.



Por várias razões, muitos outros sofrimentos vieram à sua vida, mas ele cria que, se por um lado, a cruz envolve sofrimento, por outro, ela é também o segredo da graça abundante. Por ela, o crente é levado a um mais amplo desfrutar da vida de ressurreição e também a uma verdadeira integração na comunhão da Igreja, que é o Corpo de Cristo.



A enorme oposição que Sparks enfrentava era inacreditável. Livros e panfletos eram escritos contra ele, pregadores falavam contra ele, davam-lhe a fama de ser um falso mestre, cheio de ardis. Esse isolamento total a que o colocavam era, de muitas formas, a prova mais dura que ele suportava. Ano após ano, ele ia a Keswick onde, atrás da plataforma, estava escrito: "Todos somos um em Cristo". Mas sempre que ia ao encontro daqueles com quem já havia trabalhado e estendia-lhes a mão, eles não o cumprimentavam, não lhe dirigiam nem uma só palavra e lhe viravam as costas. Isso era para ele muito mais difícil de suportar do que todos os outros problemas.



No final da vida, Sparks estava só; havia muito poucas pessoas com ele. Campbell Morgan, Jessie Penn-Lewis, F. B. Meyer e A. B. Simpson tiveram grande influência na vida de T. Austin-Sparks. Ele costumava dizer que de todos os pregadores americanos que ele conhecera quando jovem, A. B. Simpson era o mais espiritual e o que falava com mais poder.



Sparks sempre utilizava algumas frases que, na época, praticamente não eram ouvidas em outro lugar. Uma delas era que "a Igreja é o corpo de Cristo", outra era que "precisamos ter uma vida de Corpo, que os membros de Cristo são membros uns dos outros". Eram frases muito mencionadas por ele, mas algo totalmente novo e desconhecido no mundo cristão da época. Certa vez ele disse: "Podemos tomar a Igreja, que é o Corpo do nosso Senhor Jesus unida ao Cabeça que está à mão direita de Deus, e reduzi-la a algo terreno, fazer dela uma organização humana". Todas essas frases eram consideradas muito estranhas. No mundo cristão falava-se sobre conversão, estudo bíblico, oração, testemunho, missões, vida vitoriosa. Mas nada se ouvia sobre a Igreja, sobre o Corpo de Cristo, sobre sermos membros uns dos outros. Ele era uma voz profética solitária. Foi isolado, rejeitado, caluniado.



Uma das ênfases de seu ministério era "a universalidade e a centralidade da cruz". Essa era uma das ênfases do seu ministério. Outra ênfase era a preeminência do Senhor Jesus. Para ele, o Senhor Jesus era o início e o fim de tudo, o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último. Ele via que tudo está em Cristo: toda a nova criação, o novo homem, tudo. Outra ênfase era "a casa espiritual de Deus". Ele via a Igreja como a casa espiritual de Deus, como a noiva de Cristo, como o Corpo do Senhor Jesus. Seu entendimento sobre a Igreja era muito claro. Ele dizia: "Isso é o coração da história, o coração da redenção". Por isso, costumava dizer: "Há algo maior do que a salvação". Por essa razão, as pessoas se iravam contra ele e diziam que falar desse modo não estava correto, não era bíblico. Mas Sparks sempre respondia: "A salvação não é o fim, mas é o meio para o fim. O fim que o Senhor tem é Sua habitação, é Sua casa espiritual, Sua habitação no Espírito, e a salvação é o meio para nos colocar nessa casa espiritual de Deus."



T. Austin-Sparks foi um grande homem, e os grandes homens têm também grandes falhas. Ele possuía fraquezas, mas a impressão que ficava em quem o conhecia não era dessas fraquezas, mas o fato de que ele sempre magnificava o Senhor Jesus, não apenas por palavras, mas pela sua vida. Sua própria presença trazia algo do Senhor Jesus. Sempre que ele chegava ou falava, recebia-se a perfeita convicção de quão grandioso o Senhor Jesus é. Isso foi algo que o Senhor fez nele de tal forma que sua presença e seu ministério glorificavam o Senhor.



Em abril de 1971, o irmão Sparks partiu para estar com seu amado Senhor, para esperar até o momento em que a esperança da reunião da noiva de Cristo se tornará gloriosa realidade.

(Adaptado da biografia publicada no livro O Testemunho do Senhor e a Necessidade do Mundo. © Editora dos Clássicos, 2000.)

Watchman Nee

Muitos missionários protestantes foram enviados da Europa e dos Estados Unidos para a China, a partir do século XVI. Nos primeiros anos do século XX, após séculos de trabalho fiel e alavancado pelo martírio de muitos cristãos na Revolução Boxer, o mover do Senhor na China avançou dramaticamente. Muitos pregadores "nativos" foram levantados pelo Senhor e se tornaram a força prevalecente na pregação do evangelho, especialmente em 1920, junto à nova geração de estudantes colegiais e universitários chineses. Um certo número de estudantes brilhantes, entre os quais estava Nee Shu-tsu (Watchman Nee), foram chamados e preparados pelo Senhor para fazer a Sua obra neste período.

Nee Shu-tsu, cujo nome em inglês era Henry Nee, nasceu de pais pertencentes a uma segunda geração de cristãos em Foochow, China, em 1903. Seu avô paterno, na realidade, havia estudado no American Congregational College em Foochow e se tornou um dos primeiros pastores chineses entre os congregacionalistas na província de Fukien, ao norte. Nee Shu-tsu foi consagrado ao Senhor antes de seu nascimento. Desejando um filho, sua mãe havia orado ao Senhor, "Se eu tiver um menino, eu irei apresentá-lo a Ti". O Senhor respondeu sua oração e, logo após, Nee Shu-tsu nascia. Seu pai, mais tarde, marcou este fato em sua memória, "Antes que você tivesse nascido, sua mãe prometeu apresentá-lo ao Senhor".

Antes de sua salvação, Nee Shu-tsu era um estudante com um péssimo comportamento, mas ao mesmo tempo, excepcionalmente inteligente. Ele estava sempre entre os primeiros da classe na sua escola, desde a escola primária até sua graduação no Anglican Trinity College em Foochow. Ele tinha muitos grandes sonhos e planos para o futuro e poderia ter tido um grande sucesso no mundo. No entanto, Nee Shu-tsu, familiarizado com o evangelho desde a infância, tinha uma compreensão profunda de que se ele recebesse Jesus como seu Senhor para salvação, ele deveria também servi-lo. Em 1920, depois de uma considerável luta interior, Nee Shu-tsu, então com dezessete anos de idade e ainda um estudante colegial, foi salvo dinamicamente. No momento de sua salvação, todos os seus planos anteriores se tornaram vazios e sua carreira futura foi inteiramente abandonada. Ele testemunhou, "Desde a noite em que fui salvo, eu comecei uma nova vida porque a vida do Deus Eterno havia entrado em mim". Mais tarde, depois de ter sido levantado pelo Senhor para realizar Sua missão, ele adotou um novo nome em inglês “Watchman” (Sentinela) e um novo nome chinês “To-sheng”, o qual significa "alarme de sentinela", porque ele se considerava como uma sentinela levantada para soar um alarme na noite escura.

Preparação e Treinamento

Watchman Nee não cursou nenhuma escola de teologia ou instituto bíblico. Sua riqueza de conhecimento a respeito do propósito de Deus, Cristo, as coisas do Espírito e a igreja foi adquirida através do estudo da Bíblia e leitura de livros espirituais cristãos. Watchman Nee se tornou grandemente iluminado e intimamente familiar com a Palavra através de estudo diligente, usando mais de vinte métodos diferentes. Em adição a isto, nos primeiros dias de ministério, ele gastava um terço de seus ganhos com suas necessidades pessoais, um terço ajudando outras pessoas, e o restante um terço com livros espirituais. Ele adquiriu uma coleção com mais de 3,000 dos melhores livros cristãos, incluindo quase todos os escritores clássicos cristãos, do primeiro século em diante. Ele possuía uma habilidade fenomenal para selecionar, compreender, discernir e memorizar material relevante, além de poder entender e reter os principais pontos e princípios espirituais de um livro em uma rápida olhada. Watchman Nee era, portanto, capaz de colher da escritura todos os pontos valiosos e princípios espirituais, de toda a história cristã, e sintetizá-los em sua visão e prática da vida cristã e da vida da igreja.

Watchman Nee se familiarizou com muitos destes livros através Margaret Barber, uma ex-missionária anglicana. Cedo em sua vida cristã, ele recebeu muita edificação e perfeição espiritual dela. Primariamente através de sua amizade com a Srta. Barber, Watchman Nee percebeu que ser um cristão é realmente uma questão da vida divina em nós. Através do pastoreamento dela, ele aprendeu a prestar mais atenção à vida do que à obra e viver sua vida através de Cristo.

Sofrimentos

Watchman Nee teve uma visão inegável e recebeu uma comissão definida do Senhor a respeito da Igreja, e ele sofreu grandemente devido à sua fidelidade a elas. Porque a visão era tão clara e a comissão tão real, não importava para ele se ele fosse rejeitado, sofresse oposição ou condenado. Ele antecipou estas respostas e estava determinado a pagar qualquer preço pela comissão que ele havia recebido do Senhor. Sua fidelidade a esta comissão custou a ele, no fim, a sua própria vida. Suas revelações profundas, combinadas com seus sofrimentos resultaram em um rico ministério de vida, de acordo com a comissão do Senhor para ele: o ministério neotestamentário único de Cristo e a Igreja.

Watchman Nee suportou muitos sofrimentos pelo ministério do Novo Testamento. Devido ao seu absolutismo em seguir ao Senhor e sua fidelidade em cumprir o comissionamento de Deus, ele passou por freqüentes maus-tratos tanto quanto dificuldades por toda a sua vida. Porque ele lutou sem descanso a batalha pelo mover de Deus, ele estava sob constante ataque do inimigo de Deus. Ao mesmo tempo, ele estava debaixo da mão soberana de Deus. Ele reconhecia as intervenções soberanas de Deus à sua volta não somente como um “espinho na carne” divinamente dado; mas, mais importante, como um meio pelo qual Deus era capaz de lidar com ele. Devido a ambos, os ataques do inimigo e as intervenções fiéis feitas por Deus, Watchman Nee viveu uma vida de sofrimento. A maior parte de seus sofrimentos vieram de cinco fontes: pobreza, saúde ruim, variedade de denominações, irmãos e irmãs em dissensão nas igrejas locais e aprisionamento.

Nos primeiros anos do ministério de Watchman Nee, a situação econômica da China era desesperadora. Por causa do que ele havia visto na Palavra, ele estava exercitado para viver pura e simplesmente pela fé em Deus; não somente para seu sustento, mas também em cada aspecto da obra de Deus. Portanto, ele sistematicamente recusou empregos oferecidos por quaisquer pessoas ou organizações. Nos primeiros dias do seu ministério em Shangai, houve vezes em que tudo o que ele tinha para comer a cada dia era um pãozinho.

Watchman Nee também era freqüentemente afligido por sérios problemas de saúde. Nos primeiros onze anos de seu ministério (iniciando em 1922), ele sofreu sozinho, sem uma esposa que pudesse ajudá-lo. Durante este período, ele contraiu tuberculose e sofreu imensamente por muitos anos. Em 1934, com trinta anos de idade, entretanto, Watchman Nee casou-se com uma verdadeira "ajudadora”, Charity Chang, apesar do Senhor não ter dado filhos a eles. Em seus últimos anos, ele também sofreu de desordens estomacais crônicas assim como angina, uma séria doença cardíaca. Ele nunca foi curado desta doença cardíaca e poderia ter morrido por causa dela a qualquer momento. De fato, muitas vezes ele ministrou, não usando de vigor físico, mas através da vida ressurrecta.

Ele também sofreu por causa de sua crença de que, de acordo com a Bíblia, as denominações são um erro, pois promovem a divisão do Corpo único de Cristo. Por causa de sua posição firme em relação à unidade do Corpo de Cristo, que era um testemunho contra as denominações, elas lhe causaram muito sofrimento. Algumas o desprezavam, criticavam, se opunham e faziam o melhor possível para destruir o seu ministério. Elas também espalharam falsos rumores sobre ele e o caluniaram a tal ponto que Watchman Nee uma vez respondeu, "O Watchman Nee retratado por elas também seria condenado por mim”.

Certos irmãos e irmãs que congregavam nas igrejas locais se tornaram outra fonte de sofrimento para Watchman Nee. Para ele, este foi o tipo de sofrimento mais doloroso. Alguns destes irmãos causaram um grande número de problemas devido à sua dissensão, imaturidade, incompetência, teimosia, ambição por posições ou rebelião. Dois anos depois que a vida da igreja começou a ser praticada na cidade natal de Watchman Nee, em 1922, ele foi temporariamente excomungado pelos seus próprios companheiros na obra por causa da sua posição firme em relação à verdade das Escrituras, quando ele protestou a respeito da ordenação de alguns de seus companheiros de liderança, feita por um missionário denominacional. Apesar da maior parte dos irmãos que congregavam com eles ter ficado ao lado de Watchman Nee, o Senhor não o permitiu que fizesse qualquer coisa para se vingar. Este foi um profundo sofrimento para o seu homem natural.

A fonte final de sofrimento foi a sua condenação e aprisionamento sem nenhum fundamento. Watchman Nee foi aprisionado durante a Revolução Cultural Comunista em março de 1952 e foi julgado, falsamente condenado e injustamente sentenciado a quinze anos de prisão em 1956.

Watchman Nee foi um homem de tristezas e sofrimentos. Ao longo de toda a sua jornada seguindo o Cordeiro, ele sofreu muito. Através de todos estes sofrimentos, no entanto, ele aprendeu muitas lições. Eles sofrimentos não somente o ajudaram a confiar no Senhor, como também o beneficiaram em sua luta contra sua carne, seu eu, sua alma e sua vida natural. Devido à sua obediência à estes tratamentos, ele nunca ensinou simples doutrinas e ensinamentos, mas suas mensagens continham a realidade adquirida através de seus sofrimentos. A experiência que ele adquiriu através de seus sofrimentos serviu como uma ajuda imensurável para todos aqueles debaixo do seu ministério e também se tornou uma rica herança para todas as igrejas locais, uma herança adquirida por ele pelo mais alto preço.

Seus sofrimentos também o ajudaram a ter mais revelação do Senhor. Cada tipo de sofrimento com freqüência era acompanhado por uma revelação específica, relativa àquele assunto. Seus sofrimentos, portanto, com freqüência se tornaram a revelação de Deus para ele. Ele foi purificado, tratado, quebrado e constituído pelo Espírito Santo com a vida divina através de seus sofrimentos. Por meio de tais experiências de Cristo em meio ao seu sofrimento, ele, como Paulo, foi preparado e posicionado para receber a revelação de Deus.

Martírio

Watchman Nee foi guiado pelo Senhor para permanecer na China continental apesar da ameaça do comunismo e sacrificar a tudo pela obra do Senhor ali. Neste aspecto, ele foi parecido com o apóstulo Paulo em Atos 20:24: "Mas eu considero minha vida sem valor e nenhuma preciosidade para mim mesmo, de modo que eu possa terminar minha carreira e o ministério que eu recebi do Senhor Jesus...". A respeito desta decisão, o irmão Hsu Jin-chin testificou o seguinte:
Antes que o irmão Nee deixasse Hong Kong, irmão Lee o aconselhou muitas vezes a não retornar para o continente. Mas o irmão Nee disse, “Se uma mãe descobrisse que a sua casa estivesse em fogo, e que ela fosse a única que estivesse fora da casa, lavando roupa, o que ela faria? Apesar dela perceber o perigo, ela não correria de volta para a casa? Apesar de eu saber que o meu retorno é cheio de perigos, eu sei que muitos irmãos e irmãs estão lá dentro. Como eu posso não retornar?” Irmão Lee acompanhou-o por três vezes do ponto de ônibus de volta para a sua casa em Diamond Hill...

Watchman Nee foi preso pelos comunistas em março de 1952 por professar fé em Cristo tanto quanto por sua liderança entre as igrejas locais. Ele foi julgado, falsamente condenado e sentenciado em 1956 a quinze anos de prisão. Durante todo este tempo, somente à sua esposa foram permitidas visitas a ele. Apesar de haver maneira de sabermos o que ele experienciou do Senhor durante o seu longo período de aprisionamento, suas últimas oito cartas nos dão um vislumbre dos seus sofrimentos, sentimentos e expectativas durante o confinamento. Apesar da censura da prisão não permitir que ele mencionasse o nome do Senhor em suas cartas, em sua carta final, escrita no dia de sua morte, ele fez uma alusão à sua alegria no Senhor: "Na minha doença, eu ainda permaneço alegre no coração". Watchman Nee estava praticando as palavras do apóstulo Paulo em Filipenses 4:4: "Alegrem-se sempre no Senhor". Ele morreu em confinamento na sua cela em 30 de maio de 1972. Humanamente falando, ele morreu em miséria e humilhação. Nenhum parente ou irmão ou irmã no Senhor estava com ele. Não houve uma notificação apropriada de sua morte e não houve funeral. Ele foi cremado em 1 de junho de 1972. Sua esposa havia morrido seis meses antes, de maneira que a irmã mais velha dela foi informada de sua morte e cremação. Ele recuperou as suas cinzas e elas foram enterradas com a da Sra. Nee em sua cidade natal de Kwanchao, no condado de Haining, província de Chekiang. Em maio de 1989, as cinzas de Watchman Nee e sua esposa foram transferidas e enterradas no “Cemitério Cristão em Shiangshan, na cidade de Soochow da província de Kiangsu.O que se segue é um relato da sobrinha do irmão Nee, a qual acompanhava a irmã mais velha da Sra.Nee no trabalho de recolher as cinzas:

Em junho de 1972, nós recebemos uma nota da fazenda de trabalhos forçados avisando que o meu tio-avô havia falecido. A mais velha das minhas tias-avós e eu corremos para a fazenda de trabalhos forçados. Porém, quando nós chegamos lá, soubemos que ele já havia sido cremado. Nós pudemos apenas ver as suas cinzas... Antes de sua partida, ele deixou um pedaço de papel debaixo do seu travesseiro com várias linhas de palavras grandes escritas com uma mão trêmula. Ele queria testificar a verdade que ele havia experimentado por toda a sua vida, até mesmo na hora da sua morte. Esta verdade é — “Cristo é o Filho de Deus que morreu pela redenção dos pecadores e ressuscitou depois de três dias. Esta é a maior verdade do universo. Eu morro por causa da minha crença em Cristo - Watchman Nee". Quando o oficial da fazenda nos mostrou este papel, eu orei ao Senhor que me deixasse decorá-lo rapidamente...Meu tio-avô havia morrido. Ele foi fiel até a morte. Com uma coroa manchada com sangue, ele foi estar com o Senhor. Apesar de Deus Todo-Poderoso não ter satisfeito o seu último desejo, que ele pudesse sair vivo para se encontrar com a sua esposa, o Senhor preparou uma coisa ainda melhor – Eles foram reunidos diante do Senhor.

Durante o aprisionamento de Watchman Nee, ele foi fisicamente confinado, mas o seu ministério não foi preso (2 Tim. 2:9). Debaixo da soberania do Senhor, seu ministério se espalhou pelo mundo todo, como uma provisão rica de vida para todos os cristãos sinceros.Seu último peso foi pelas igrejas de Deus, o tabernáculo de Deus. Apesar do seu próprio tabernáculo físico (corpo físico) estivesse abatido, as igrejas, as quais eram tão queridas em seu coração, estão não somente sobrevivendo, mas continuam a crescer vigorosamente e a se espalhar sobre toda a terra. Na época que Watchman Nee foi preso, em 1952, aproximadamente 400 igrejas locais haviam sido levantadas na China através de sua vida e ministério. Em adição, mais de trinta igrejas locais foram levantadas nas Filipinas, Singapura, Malásia, Tailândia e Indonésia. Hoje o Senhor tem multiplicado as igrejas locais a mais de 2.300 ao redor do mundo, através dos ricos e fiéis ministérios de Watchman Nee e Witness Lee.

Extraído e traduzido do site www.watchmannee.org
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A. W. Tozer

“Penso que minha filosofia seja esta: tudo está errado até que Deus endireite.”

Esta afirmação do Dr. A. W. Tozer resume perfeitamente a sua crença e o que ele tentou realizar durante seus anos de ministério. Sua pregação e seus livros concentraram-se inteiramente em Deus. Ele não tinha tempo para mercenários religiosos que inventavam novas formas para promover suas mercadorias e subir nas estatísticas. Tozer marchou ao ritmo de uma batida diferente e, por esta razão, normalmente não acompanhava os passos de muitas das pessoas que participavam de desfiles religiosos.

No entanto, foi esta excentricidade cristã que nos fez amá-lo e apreciá-lo. Ele não tinha receio em apontar o que era errado. Nem hesitou em dizer como Deus poderia endireitar todas as coisas. Se é que um sermão pode ser comparado à luz, então, A. W. Tozer emitia raios laser do púlpito, um feixe de luz que penetrava o nosso coração, exauria nossa consciência, expunha nossos pecados e nos fazia clamar: “O que devo fazer para ser salvo?” A resposta era sempre a mesma: entregar-se a Cristo; procurar conhecê-lo de forma pessoal; crescer para tornar-se como Ele.

Aiden Wilson Tozer nasceu em Newburg (naquele tempo conhecida como La Jose), Pensilvânia, Estados Unidos, em 21 de abril de 1897. Em 1912, sua família deixou a fazenda e foi para Akron, Ohio; e, em 1915, ele se converteu a Cristo. No mesmo instante passou a levar uma vida fervorosa de devoção e testemunho pessoal. Em 1919, começou a pastorear a Alliance Church, em Nutter Fort, West Virginia. Também pastoreou igrejas em Morgantown, West Virginia; Toledo; Ohio; Indianapolis, Indiana; e, em 1928, foi para a Southside Alliance Church, em Chicago. Ali, ministrou até novembro de 1959, quando tornou-se pastor da Avenue Road Church, em Toronto, no Canadá. Um ataque cardíaco, em 12 de maio de 1963, pôs fim àquele ministério, e Tozer foi chamado para a Glória.

Tozer alcançou um número maior de pessoas por intermédio de suas obras do que por suas pregações. Grande parte do que escreveu era refletido na pregação de pastores que alimentavam a alma com as palavras de Tozer. Em maio de 1950, foi nomeado editor de The Alliance Weekly, agora conhecida como The Alliance Witness, que provavelmente foi a única revista religiosa a ser adquirida graças, sobretudo, aos seus editoriais. Certa vez, o Dr. Tozer, em uma conferência na Evangelical Press Association (Associação da Imprensa Evangélica), censurou alguns editores que praticavam o que ele chamava de “jornalismo de supermercado” – duas colunas de propagandas e uma nota de material para leitura. Era um escritor exigente e tão duro consigo mesmo quanto com os outros.

O que há nas obras de A. W. Tozer que nos prende a atenção e nos cativa? Primeiro, ele Tozer escrevia com convicção. Não estava interessado nos cristãos superficiais de Atenas que estavam à procura de algo novo. Tozer mergulhou novamente nas antigas fontes e nos chamou de volta às veredas do passado, tendo plena convicção e colocando em prática as verdades que ensinava.

Tozer era um místico cristão em uma época pragmática e materialista. Ele ainda nos convida a ver aquele verdadeiro mundo das coisas espirituais que transcendem o mundo material que tanto nos atraem. Suplica para que agrademos a Deus enos esqueçamos da multidão. Ele nos implora que adoremos a Deus de modo que nos tornemos mais parecidos com Ele. Como esta mensagem é desesperadamente necessária em nossos dias!

A. W. Tozer recebeu a dádiva de compreender uma verdade espiritual e erguê-la para a luz para que, como um diamante, cada faceta fosse observada e admirada. Ele não se perdeu nos pântanos da homilética; o vento do Espírito soprava e ossos mortos reviviam. Suas obras eram como graciosos camafeus cujo valor não se avalia por seu tamanho. Sua pregação se caracterizava pela intensidade espiritual que penetrava no coração do ouvinte e o ajudava a ver Deus. Feliz é o cristão que possui um livro de Tozer à mão quando sua alma está sedenta e ele sente que Deus está longe.

Tozer, em suas obras, nos entusiasma tanto sobre a verdade que nos esquecemos de Tozer e tratamos de pegar a Bíblia. Ele mesmo sempre dizia que o melhor livro é aquele que faz o leitor parar e pensar por si mesmo. Tozer é como um prisma que concentra a luz e depois revela sua beleza.

(Adaptado da Introdução do livro O Melhor de Tozer, vol. 2. © Editora dos Clássicos, 2001.)