sábado, julho 23, 2011

Francis Asbury (1745-1816)



I – SEUS PAIS E SUA MOCIDADE

1. Seus Pais
Pouco se sabe dos pais de Francis Asbury, além daquilo que ele próprio menciona no seu diário. O pai era jardineiro e trabalhava nos jardins e hortas dos seus vizinhos mais abastados. Sem dúvida foi um homem trabalhador e honesto, no entanto, aprendeu a economizar os lucros do seu trabalho vencendo os dias todos da vida, na pobreza.

A mãe era uma senhora piedosa que amava estremecidamente aos filhos. Tinha só dois, um menino e uma menina que se chamava Sara e que faleceu ainda pequena, ficando a mãe a lamentar muito a sua morte.

Quando o filho se ofereceu para o trabalho na América, foi-lhe sobremodo difícil consentir que ele fosse. E como seu ilustre filho nunca mais voltou para a Inglaterra, teve que se consolar sabendo que ele cumpria a vontade de Deus, estabelecendo o Reino de Cristo na América.

O filho, Asbury, da América, mandava alguma coisa aos velhos pais para ajudar naquilo que podia.

2. Sua mocidade.
O que sabemos do seu nascimento e sua mocidade é aquilo mesmo que ele nos conta em seu diário; portanto citemos longo trecho do que ele escreveu a respeito de sua mocidade, depois de vinte e um anos passados na América. Foi no ano subseqüente à morte de João Wesley.


Sem dúvida a leitura da biografia de João Wesley lhe fora estímulo para narrar alguns fatos da sua mocidade que não contavam do seu diário.

“É muito provável”, disse ele “que tudo que escreverem de mim seja encontrado no meu diário; não será impróprio, portanto, relatar alguma coisa a respeito dos meus primeiros dias e dar algumas informações acerca dos primeiros anos do meu ministério”.

“Nasci na velha Inglaterra, ao pé da Ponte de Hamstead, na paróquia de Handsworth, a quase uma légua distante de Birmingham, em Stafford-shire, e, segundo a mais segura informação que tenho, foi no dia 20 de agosto de 1745”.

Meu pai se chamava José e minha mãe Elizabeth. Eram de humilde posição, mas notáveis pela honestidade e pelo amor ao trabalho, e tinham tudo o que lhes era necessário para o conforto. Se meu pai tivesse sido tão econômico quanto laborioso, teria sido um homem abastado.

“Mas como se deu, foi-lhe a sorte ser jardineiro dos dois homens mais ricos da paróquia. Meus pais tinham dois filhos, uma filha de nome Sara, e eu. Minha querida irmã faleceu na infância. Era filha predileta de minha mãe que a amava estremecidamente. Dali por alguns anos andara profundamente triste chorando a falta de sua filha. Foi nesse lance que agradou a Deus abrir os olhos de sua mente para o fato de que ela viria num dia e lugar de muitas trevas. Agora ela começou a ler, ocupando todo o tempo que as oportunidades lhe apresentavam. Quando eu era pequeno achava muito esquisito vê-la à janela lendo um livro horas inteiras.”

“Posso dizer que desde a minha mocidade não tenho proferido uma blasfêmia, nem dito uma mentira. O amor à verdade não é natural, porém o hábito de falar a verdade eu o adquiri desde pequenino: e fui tão bem instruído que nunca pude violar minha consciência, a qual me não permitia blasfemar. De meus pais aprendi uma certa forma de oração, e me lembro bem como minha mãe insistia com papai para fazer o culto doméstico quando o costume de cantar salmos o caracterizava no lar. Minhas fraquezas eram as de criança: o gosto de brincar. Todavia abominava judiarias e iniqüidades, não obstante serem os meus colegas os piores e mais corrompidos da comunidade, a mentir, blasfemar e brigar, praticando tudo o que rapazes da sua idade ousariam fazer. Muitas vezes, apesar dos meus escrúpulos e princípios de moral, ainda continuava procurando nele prazeres que não pude encontrar. Não raras vezes fui criticado e ridicularizado com chamarem-me de pastor, tão somente porque minha mãe sempre convidava pessoas religiosas para nos visitar em casa. Mui cedo na vida, mandaram-me à escola e entre seis e sete anos comecei lendo a Bíblia cuja parte histórica era muito do meu prazer. Meu professor era um homem brutal que me castigava severamente. Isto me levou a orar e sentir comigo a presença de Deus.”

“Meu pai só tinha um filho, era eu. Dai querer me conservar na escola por muito tempo; porém, nisto foi desapontado, pois criei tanto desgosto pela escola e tanta antipatia para com meu professor que estava ansioso para sair e fazer qualquer serviço, fosse o que fosse. Por algum tempo morei com uma família, a mais rica e ímpia da paróquia, ficando por isso vaidoso, mas não ímpio. Depois de alguns meses, quando tinha treze para quatorze anos de idade, voltei para casa dos meus pais e resolvi escolher uma profissão. Escolhi a de ferreiro seguindo-a por seis anos e meio, gozando muita liberdade e sendo tratado pela família com que trabalhava, como se fosse um filho e não um aprendiz. Logo depois que comecei neste serviço Deus nos mandou à comunidade, um homem piedoso, não um metodista, que minha mãe convidava para vir à nossa casa.”

“Pela conversação e oração deste homem eu me despertei antes mesmo de completar quatorze anos de idade. Já não me era então difícil deixar meus colegas e comecei a fazer oração de manhã e à noite, sendo atraído por laços de amor, como se fossem cordas de homem.”

“Em pouco tempo deixei o nosso vigário cego, e procurei os cultos feitos na Igreja de Werb Bromwich, onde tinha o privilégio de ouvir os reverendos Ryland, Slittmgfleeb, Talbob, Bagnall, Mansfield, Hawes e Venn, grandes nomes e estimados ministros do evangelho. Isto me interessou e comecei a ler e reler os sermões de Whitefield e Cenninch e todos os bons livros que podia encontrar. Não passou muito tempo e comecei a indagar de minha mãe quem eram e onde estavam os metodistas. Ela me respondeu com boas informações deles e me indicou uma pessoa que me levaria a Wednesbury para os ouvir. Descobri logo que esta Sociedade metodista não era a Igreja, mas era melhor que a Igreja. O povo era tão devoto; homens e mulheres se ajoelhavam e diziam “amém”, ou cantavam hinos, suaves, melodiosos! Coisa esquisita: o pregador não tinha livro de oração, mas orava maravilhosamente! E ainda mais admirável e interessante de tudo era o homem tomar um texto sem nenhum livro de sermões. E eu pensava: é deveras maravilhoso! De fato é um pouco esquisito, mas é o melhor método. Ele falou sobre confiança, segurança, etc, ponto em que me falhavam todas as esperanças e aspirações. Eu não tinha convicções profundas, nem tinha cometido qualquer pecado grande de que eu me lembrasse.”

“De outra feita, numa pregação, um colega meu ficou profundamente abalado. Eu, no entanto, me afligia porque o mesmo não se dera comigo, estava num estado de incredulidade.”

“Certa ocasião, quando estávamos orando no paiol de meu pai, creio eu que me converti, sentindo que o Senhor me perdoava os pecados e me justificava o coração. Meus colegas, porém, me furtaram esta convicção, dizendo que o Dr. Matha dissera que um crente devia estar tão alegre como se estivesse no Céu. Julguei então que não estava tão feliz aqui como estaria no Céu, e assim abandonei a minha confiança e neste estado fiquei por alguns meses”.

“Mas, ainda assim estava alegre, não sentindo qualquer culpa ou medo, resistindo ao pecado e sentindo continuo gozo no coração. Depois disto nós nos reunimos para ler e orar e os cultos eram bons e bem freqüentados, mas muito perseguidos. O próprio dono da casa em que se realizavam os cultos ficou com medo e os cultos não mais se realizaram ali.”
‘Comecei então a fazê-los na casa de meu pai, exortando o povo ali como também em Sutton Colfeld, e algumas almas confessaram que tinham achado a paz por meio das minhas exortações.”

“Assistia à classe em Bromwich Heath e a Sociedade em Wednesbury. Diversas vezes eu pregara antes de me apresentar em qualquer casa de oração dos metodistas. Quando os meus trabalhos se tornaram mais publicamente conhecidos, o povo se admirava, não sabendo que me havia exercitado em qualquer outro lugar. Eis-me agora um pregador local! Um servo humilde e pronto para ajudar a qualquer pregador que me convidasse ou de dia ou de noite. Estava pronto para ir a qualquer lugar perto ou longe com intuito de fazer o bem, visitando Derlyshire, Stafford-shire, Wowichshire, Wocerteshil, e afinal a qualquer lugar ao meu alcance, pelo amor às almas preciosas, pregando geralmente três, quatro e cinco vezes por semana e ao mesmo tempo seguindo o meu ofício de ferreiro. Se não me engano, tinha vinte e um ou vinte e dois anos, tendo servido cinco anos como pregador local, quando me consagrei a Deus e a seu trabalho.”

“Hoje é dia 19 de julho de 1792, e para Deus e pelas almas tenho trabalho há mais ou menos trinta anos.”

“Algum tempo depois da minha conversão a Deus, no calor de meu sangue e coração de jovem, o Senhor me mostrou o mal no meu íntimo. Por algum tempo gozei o que julgava o amor puro e perfeito de Deus. Mas este estado de coisas não continuou por muito tempo, apesar de certas épocas de grande alegria. Quando era itinerante na Inglaterra, fui muito tentado descobrindo ignorar ainda muito coisa do Evangelho e que um ministro deve conhecer.”
“Como fui levado a vir para a América e os sucessos que se desenrolaram desde aquela ocasião, meu diário os revelará”.

II – SEU PREPARO PARA O MINISTÉRIO

Quando lembramos a grande diferença entre João Wesley e Asbury, quanto ao preparo para o ministério, admiramos a sabedoria de Deus em os chamar para sua seara. Asbury terminando seus estudos na escola com quatorze anos de idade, e João Wesley continuando seus estudos na universidade até a idade de trinta e três anos. Mas devemos também lembrar o campo em que cada um tinha de trabalhar. O campo de Wesley exigia preparo espiritual e intelectual, por todos os motivos mui especializados para lidar com os problemas religiosos e sociais de um povo preso aos seus costumes e preconceitos formados no correr dos séculos, enquanto Asbury tinha de trabalhar num campo novo, entre um povo livre de preconceitos que caracterizavam o povo do mundo velho.

O trabalho na América exigia não somente abnegação, mas também habilidade no adaptar-se ao meio e obrar com sabedoria decorrente da vida prática. Os cincos anos de trabalho como ferreiro e sua experiência na evangelização do povo de sua cidade antes de conhecer os metodistas e, além disto, os cinco anos de pregador local, e ainda mais cinco como itinerante como pregador metodista na Inglaterra, deram-lhe preparo para seu trabalho na América. Preparo que a Universidade não teria dado. Basta ver que Wesley com todo o seu preparo universitário foi um fracasso na América. Asbury, no entanto, que conhecia a vida prática foi um dos maiores triunfos como se fora um missionário nestes tempos modernos. Deus sabe escolher e preparar os seus obreiros.

1. Seus estudos
Julgando pelo que ficou dito sobre o preparo de Asbury, parece desnecessário qualquer outra palavra sobre o assunto. Mas devemos lembrar que Asbury, apesar dos poucos anos de assistência às aulas na escola, foi um leitor de livros durante toda a sua vida.

Lendo o seu diário descobrimos este fato, pois ele menciona os títulos de vários livros que lia. Está fora do assunto mencionar algumas das obras que estudou na América; todavia, para não desprezar o fato sobremodo eloqüente, citemos alguma coisa sobre os estudos que lá fazia, ao mesmo tempo que trabalhava.

Asbury não conhecia a atmosfera de uma universidade e nem mantivera contato com homens eruditos como tivera Wesley, nem por isso deixou de assentar-se aos pés dos melhores professores de todos os séculos.
Sempre estava ocupado. Sabia, como bom estudante, valorizar o seu tempo observando rigorosamente um plano fixo de estudos. Ele escreve: “Passei esta tarde lendo o Evangelho segundo São Marcos, marcando e tomando nota e esboçando os meus planos futuros. Presentemente meu programa, é: ler cem páginas por dia, orar mais ou menos cinco vezes por dia em público, pregar ao ar livre de dois em dois dias, falar nos cultos de oração todas as tardes e se fosse possível gostaria de fazer mil coisas mais para meu bondoso e bendito Mestre”.

E continua: “Tenho passado o meu tempo recordando os tons e pontos no hebraico; isto é o que estudo quando ando a cavalo. Que lugar para o estudo do hebraico!” Nesta ocasião diz ele: “Gastei muito do meu tempo lendo o Novo Testamento em Grego. Procuro aprender um pouco de tudo, buscando enriquecer a minha mente estudando línguas, divindade, gramática, história, literatura; meu maior desejo é me desenvolver nas coisas úteis.

Com que avidez aproveitava ele as oportunidades para aperfeiçoar-se nos seus estudos. É ele ainda quem diz: “Passei a noite com o Sr. Henrique, um judeu. Lemos o hebraico, uma parte da noite, e seria prazer ter gasto toda a noite assim com um professor tão bom”. nós temos um pouco de tudo e procuramos enriquecer a nossa mente estudando línguas, divindade, gramática, história, literatura; meu maior desejo é me desenvolver nas coisas úteis.

Citemos o depoimento do Dr. Fipple que nos dará idéia mais clara sobre a rotina de estudo de Asbury: “Este homem era um sedento por aprender, tão ansioso que era para adquirir conhecimentos. Sempre levava livros consigo, quase sempre no alforje, mas quando não cabiam no alforje levava-os numa grande caixa. Assim Francis Asbury se tornou um homem erudito”.
Sentimos que o espaço não nos permite dar uma lista das obras lidas por ele, e no seu diário mencionadas.

2. A aprendizagem para ferreiro
Como já dito, a escola tornou-se-lhe intolerável por causa da brutalidade do professor. Saindo da escola procurou um serviço qualquer e arranjou emprego com um ferreiro onde trabalhou uns cinco anos. Durante este tempo, podemos dizer, Deus já o estava preparando para o seu trabalho missionário mais tarde na América. Asburby estava acostumando-se às provações que teria de enfrentar. Estudava também a natureza humana na sua fraqueza. Sem dúvida aprendeu a arte de julgar e pesar os homens, o que revelou habilmente durante a sua longa administração da Igreja na América.

O rapaz que aprende a malhar o ferro e lidar com os fregueses de uma ferraria tem em parte, um bom preparo para o trabalho do ministério. Foi nesta época que se converteu e começou o seu trabalho de evangelização na sua própria cidade.

III – TRABALHO COMO PREGADOR NA INGLATERRA

Antes de se oferecer como missionário para a América, Asbury tinha dado provas do seu ministério “como obreiro que não tinha de que se envergonhar, manejando bem a Palavra da verdade”.

1. Como pregador local
Pouco se sabe sobre o trabalho de Asbury durante os cinco anos em que trabalhou como pregador local, além daquilo que ele próprio nos conta no trabalho citado. Mas, julgando pelos mencionados lugares onde pregava, vê-se que o seu tempo estava bem empregado. O fato de ter ele seguido seu ofício de ferreiro e ter pregado em Derbyshire, Staffordshire, o aprovaram. Assim entrou Asbury no campo que lhe parecia destinado para o resto da vida.

2. A viagem para a América
Logo depois da Conferência foi para casa e contou aos pais o que tinha resolvido fazer. Seus pais ficaram tristes sabendo que agora o único filho os ia deixar, talvez, para jamais os ver, mas, consentiram na sua ida, rogando as bênçãos do céu sobre ele.

Asbury embarcou com Richard Wrigth, no dia 4 de setembro de 1771, para Filadélfia. A viagem foi tolerável. O tratamento que recebera do capitão e dos demais membros da tripulação foi de respeito. Ele pregou quase todos os domingos aos marinheiros, mas como ele registra no seu diário, foi de quase nenhum efeito. A coisa mais desagradável e difícil de suportar foi a cama que tinha de ocupar, pois não tinha colchão nem cobertor. Felizmente ele possuía dois cobertores que muito lhe serviram na longa viagem pelo mar.

Para apreciarmos os seus motivos quanto à sua missão na América citamos novo lance do seu diário: “Quinta-feira, 12 de setembro de 1771. Quero notar aqui algumas coisas que me pesam na mente. Para onde vou eu? Vou para o Novo Mundo. Para que fim? Para ganhar homens? Não. Conheço bem meu próprio coração. Para ganhar dinheiro? Também não. Vou viver para Deus, e para levar outros a fazer a mesma coisa. Na América tem havido manifestações de Deus. Primeiro entre os amigos (Quakers), depois entre os presbiterianos. Entre uns e outros, no entanto, logo se arrefeceu.”
E continuou: “O povo que Deus tem destinado na Inglaterra são os Metodistas. As doutrinas que eles pregam e a disciplina que aplicam são as mais puras que hoje se podem achar no mundo. Deus tem abençoado ricamente essas doutrinas e essa disciplina nos três reinos: infere-se dali que lhe estão sendo aceitáveis. Se Deus não me reconhecer na América, voltarei logo para a Inglaterra. Eu sei que os meus pensamentos são retos agora; e, permita Deus sempre o sejam. Se notarmos bem os sentimentos manifestados nestas poucas linhas, teremos a chave ou o segredo do procedimento deste servo de Deus durante a sua longa e abençoada vida.”

Finalmente chegaram em Filadélfia no dia 27 de outubro de 1771 e foram recolhidos à casa do irmão Francis Hanis.

2. O primeiro ano na América
Na primeira noite na América, Asbury assistiu culto numa Igreja, pregando o Rev. Pelmoore a uma grande congregação. O povo o recebeu com muita satisfação e ele assim descreve no seu diário os seus sentimentos: “Senti que para este povo minha língua se desembaraçava para falar-lhe. Sinto a presença de Deus aqui, e encontro tudo que preciso. Seja do agrado de Deus conservar-me sob seu preciosíssimo cuidado até que me passem as tempestades da vida. Em tudo que eu fizer, onde quer que eu vá, permita Deus que não peque contra Ele, mas que faça somente aquilo que O possa agradar.”

Poucos dias ficou ele em Filadélfia onde assistia cultos e pregava algumas vezes. Em 6 de novembro começou a sua vida de itinerante na América, itinerância que nunca abandonou até o dia em que fora chamado para as felizes moradas nos céus. Pelo caminho, na viagem para Nova York, pregou em diversos lugares e no dia 12 de novembro chegou em Nova York encontrando o Sr. Richard Boardman em paz, porém, mui fraco no corpo. Não sabemos o que se deu entre eles nas suas conversações, mas é muito provável que não concordaram sobre o modo de fazer a propaganda entre o povo.

A tentação para os missionários que tinham chegado à América era ficar nas cidades onde tinham os seus amigos e onde não teriam de passar tantas privações como teriam de passar viajando pelas aldeias e sítios. Agora chegando no meio deles, Asbury, um homem acostumado a malhar o ferro e suportar privações, quis que os seus colegas fizessem o mesmo.

Encontramos o seguinte no diário dele, em conexão com a sua chegada em Nova York: “Na segunda-feira parti para Nova York e lá encontrei Richard Broadman em paz, mas muito fraco ao corpo. Agora tenho de me aplicar ao trabalho de costume: viajar, lutar e orar. Ajuda-me, ó Deus”.

Em Nova York, Asbury passou alguns dias pregando e visitando. Ficou bem impressionado com o povo americano, notando-lhe franqueza e simplicidade, porém não podia ficar parado. No seu diário ouvimo-lo dizendo: “Terça-feira, 20 de novembro de 1771. Aqui fico em Nova York, no entanto não estou satisfeito em ver os dois (pregadores metodistas) juntos aqui na cidade. Ainda não alcancei o que busco, a circulação (itinerância por um circuito de cidades e vilas) dos pregadores para evitar parcialidade e popularidade; contudo, eu me aferro ao plano metodista, e faço o que posso para Deus. Cismo que há dificuldades para enfrentar, o que não é de se estranhar, pois eu já sabia disso antes mesmo de deixar a Inglaterra; no entanto estou pronto a enfrentá-las, a sofrer sim, e morrer se preciso for antes de trair a causa bendita de Cristo. Será difícil resistir a todas as oposições como uma pilastra de ferro forte ou muralha de bronze firme, mas tudo por aquele que nos fortalece”.

Continuando a citar-lhe o diário sobre essa questão lemos: “Quinta-feira, 22 de novembro. Atualmente não estou satisfeito. Julgo que durante este inverno seremos limitados às cidades. Meus irmãos não querem deixar as cidades, mas eu lhes vou mostrar o caminho. Estou rodeado de dificuldades e ameaçado ainda mais, porque vou resistir a toda espécie de parcialidade. Não tenho outra coisa a buscar senão a glória de Deus, e nada a recear, senão o desfavor de Deus.”

Lendo estes trechos de seu diário é fácil julgar o metal de que Asbury era feito, os seus desejos, planos e idéias. A resolução que tomou, assim logo no princípio da sua missão na América, o caracterizou durante toda a sua vida. Quando ele disse que ia mostrar aos seus colegas o caminho da itinerância, não era uma expressão insignificante, porém uma convicção da sua alma cuja manifestação durante a sua vida foi altamente sugestiva. Lendo-lhe o diário ficamos impressionados com seus movimentos (suas viagens, sua itinerância) durante o primeiro ano de sua residência na América. Visitou Nova York duas vezes e Filadélfia três vezes, e pregando em muitos lugares entre estas duas cidades e nos seus arrabaldes.

Os pregadores Boardman e Plimore conservam-se nas cidades de Nova York e Filadélfia, trocando campos de trabalho, uma vez ou outra durante o ano. Asbury era de opinião que eles deviam viajar mais entre o povo nos sítios e vilas.

Asbury correspondia com Wesley, dando notícias do seu trabalho e dando o seu parecer sobre o modo como julgava que devia ser feita a propaganda (o anúncio). Seja como for, o fato é que Wesley achou proveitoso nomear Asbury o superintendente do trabalho na América, em lugar de Boardman.
Asbury no seu diário diz: “Segunda-feira, 10 de outubro de 1772. Recebi uma carta do Sr. Wesley, em que ele insiste na prática de uma disciplina rigorosa; e me nomeou como seu ajudante”. Assim passou o primeiro ano na América.

4. Nomeado superintendente e seu trabalho de itinerante
Sendo nomeado superintendente do trabalho na América começou a por em prática a sua idéia sobre a “circulação do pregador”, pondo-se de exemplo em tudo. Continuou a viajar entre as duas cidades, Filadélfia e Nova York e também ia estendendo o seu circuito para os lugares onde não haviam chegado os metodistas.

Asbury era um grande general e queria que os soldados da Cruz andassem por toda parte pregando o Evangelho. Durante este ano ele formou dois circuitos novos: um ao redor da cidade de Filadélfia e outro ao redor de Nova York. No ano anterior tinha aberto novos pontos de pregação pelas suas visitas de pregador itinerante enquanto seus dois colegas se conservavam nas cidades. Boardman sem dúvida não concordava em tudo com ele, mas não podia deixar de admirá-lo e respeitá-lo.

Também tinha estabelecido ordem e disciplina nas Sociedades Metodistas em Nova York e Filadélfia, organizando os membros em classes, dando assim oportunidade aos mesmos de serem ajudados na correção e edificação da fé. Agora, sendo nomeado superintendente ou ajudante de Wesley, ele formou dois circuitos em conexão com o trabalho já estabelecido nas cidades e mudou a sede de seu campo de ação de Nova York para Baltimore, formando novo circuito naquela zona. Dali os pregadores se ativaram mais. Novo espírito se apodera deles e o trabalho se estende para o Norte e para o sul do país.
Uma coisa houve que abriu os olhos de Asbury logo que chegou na América. Estava ele assistindo o culto em Filadélfia e assim descreve no seu diário o que testemunhou nessa reunião: “4 de novembro de 1771. Tivemos um culto de vigília. Quase no fim do culto, fala um homem do sítio, mui simples, cujas palavras calaram fundo no espírito do povo, portanto podemos dizer: quem desprezou o dia das coisas pequenas? Deus não o desprezou. Por que, então, tanto orgulho no homem? Asbury descobriu o valor do povo simples dos sítios e queria evangelizá-lo. Este foi o ponto, bem o sabemos, que o caracterizou durante toda a sua vida e até o dia de hoje tem caracterizado o metodismo. Em 1773 Wesley manda um novo obreiro, Rankin. Igualmente experimentado e disciplinado, foi nomeado superintendente no lugar de Asbury, passando este novamente às fileiras de pregador itinerante.

Como itinerante recebeu logo nomeação para o circuito one já estava trabalhando, o de Baltimore. Aquele campo era difícil, mas o trabalho de Asbury, nesta zona, foi tão ricamente abençoado que os frutos do seu serviço se manifestam até hoje nas cidades de Baltimore e Norfolk, na Virgínia. É interessante notar-se seu comportamento sobre a Conferência realizada em Filadélfia em 1773. Ele diz: “Houve alguns debates entre os pregadores nesta Conferência acerca da conduta de alguns que tinham manifestado desejo de ficar na cidade e viver como fidalgos. Três anos passados nas cidades revelaram que se havia gasto muito dinheiro inutilmente, e que se havia nomeado alguns guias incompetentes e ainda mais: algumas das nossas regras tinham sido violadas.”

5. Refugiado dois anos durante a guerra da revolução
Não será possível neste opúsculo dizer tudo o que ele fez nos primeiros anos na América. O que já foi dito revela bem o espírito e o ideal que tinha para o trabalho, cuja orientação desde o princípio por ele dada foi seguida até o fim.
Mas as coisas, politicamente falando, não iam bem, pois havia uma inquietação entre o povo das colônias contra os ingleses. O povo queria sua independência da pátria mãe, e naturalmente aos pregadores vindos da Inglaterra tocaram certas manifestações de antipatia.

Asbury passou a maior prova ou crise na sua vida quanto à sua relação com o trabalho na América. Ele era inglês e nunca se naturalizara americano, mas nem por isso, deixou de ter simpatia para com a causa dos americanos.
Tão fortes e hostis se tornaram a situação e ameaças contra os ingleses depois de declarada a independência, em 4 de julho de 1776, que os pregadores ingleses se retiraram do país. Francis Asbury pensou em fazer o mesmo, mas por causa do amor que tinha ao trabalho da evangelização, hesitou algum tempo, antes de tomar decisão definitiva sobre o assunto. Sem dúvida os seus sentimentos estavam ao lado dos seus patrícios ingleses nesta ocasião, porém o seu amor à causa de Cristo o constrangia a ficar na América.
Um lance do seu diário nô-lo revela: “22 de abril de 1777”. “Ouvi o Sr. Rankin pregar seu último sermão. Fiquei desconsolado e abatido e senti forte desejo de voltar para a Inglaterra, porém entrego tudo isto a Deus”

Logo depois de receber uma carta do Superintendente Rankin, Asbury escreve em seu diário: “Recebi uma carta do Sr. Rankin, em que me informou que ele e o Srs. Rodda e Dempter tinham tomado conselho juntos e chegaram à conclusão que deviam voltar para a Inglaterra. Mas eu de modo algum posso consentir em deixar um campo como este na América. Tão prometedor para arrebanhar almas a Cristo. Seria uma desonra eterna para o metodismo se todos nós deixássemos as três mil almas que querem se submeter ao nosso cuidado. Nem seria o papel do Bom Pastor deixar o rebanho na hora do perigo. Portanto, resolvo com a graça de Deus, não os deixar, sejam quais forem as conseqüências”.

Este fato fez lembrar o “Diga ao povo que fico” de D Pedro I, ao ser exigido seu retorno para o Reino de Portugal. Se Asbury, abandonando o campo, tivesse voltado para a Inglaterra, o metodismo teria uma história muito diferente da que tem hoje em dia.

Mas um fato, agrada-nos lembrar, ocorrido na vida de Asbury durante esta época. Alguns dos seus colegas se tinham queixado dele para Wesley e Wesley escreveu uma carta chamando Asbury para a Inglaterra, mas, felizmente quando a carta chegou, Asbury estava lá para o sul da colônia e não a recebeu antes da independência das colônias e, portanto, como já visto, não era conveniente voltar à Inglaterra e foi o único entre os pregadores ingleses que teve inclinação para ficar. Assim a ordem apressada de Wesley não foi atendida.

E além da hostilidade dos americanos contra os ingleses, o panfleto escrito por Wesley intitulado: “Um discurso calmo aos nossos Colonos Americanos”, causou forte reação contra os metodistas na América. Asbury tinha de enfrentar este ódio junto com os americanos metodistas.

Sobre o ponto, diz ele no diário: “19 de março de 1776. Recebi uma carta afetuosa do Sr. Wesley, e estou muito triste por se ter este venerável homem metido na política americana. O meu desejo é viver em paz e amor com todos os homens, fazer-lhes todo o bem possível. Contudo revela a lealdade que o Sr. Wesley tem para com o governo de seu país onde ele mora. Se fosse um súdito americano, sem dúvida seria igualmente zeloso pela causa americana. Mas alguns homens, ponderando mal, tem aproveitado a ocasião para censurar os metodistas americanos por causa dos sentimentos políticos do Sr. Wesley”.
Asbury teve de se esconder, por isso se conservara em retiro por dois anos, durante a guerra. Foi hóspede na casa do Juiz Thomas White, no Estado de Delewore. Fácil nos é imaginar a difícil situação de Asbury. Não mais podia pregar em público nem viajar sem correr mil perigos.

Os pregadores americanos continuaram o seu trabalho, realizando as Conferências anuais, porém, Asbury não as podia assistir. Nem por isso deixou ele de influir na administração do trabalho. Os pregadores visitaram-no para conferenciar com ele. E também foi uma época em que tinha mais tempo para estudar e se preparar melhor para o trabalho.

Mas houve uma coisa que muito concorreu para modificar a resolução dos oficiais do governo para com ele e demais metodistas. Foi uma carta que tinha escrito para Rankim na véspera de sua retirada da América, e que caiu nas mãos dos americanos. Nesta carta Asbury revela os seus sentimentos e opiniões acerca da guerra, dizendo que era de opinião que os americanos iam ganhar a sua independência, e que tinha muitos amigos americanos a quem amava demais para os abandonar e julgava que os pregadores metodistas americanos tinham uma grande obra para fazer na América sob a direção de Deus.

Sua simpatia e fidelidade para com a causa americana concorre para engrandecê-lo perante os americanos. Sua influência no meio deles crescia constantemente, pois o reconheceram como um homem desinteressado.

V – UM BISPO ITINERANTE

Devemos lembrar que a situação do movimento metodista depois da revolução tomou aspecto diferente. Foi espantoso o crescimento em número durante os oito anos de perturbação, pois, só neste período o número de membros passou a ser cinco vezes mais do que era no princípio da revolução. Mas com este crescimento em número e com a separação da Igreja Anglicana do Estado quando se fundou a Republica terminou o regime episcopal e o povo metodista estava com um ministério sem ordenação e grande número de gente sem a administração dos sacramentos e do batismo e Santa Ceia.

Até aqui os metodistas (que eram parte da Igreja Anglicana) podiam em grande parte batizar os seus filhos e comungar nas Igrejas Anglicanas, porém, tudo isto já desaparecera. Que se havia de fazer? Já por algum tempo antes disto muitos pregadores tinham pensado em administrar os sacramentos, mesmo sem ordenação, porém Asbury sempre se opôs. Alguns ameaçaram de uma separação se tal coisa não fosse feita, mas ele resistiu. Vê-se, portanto, que não era uma questão inteiramente nova que surgia de um dia para outro, mas sim uma questão já antiga que se agradava com as modificações radicais do país.

João Wesley estava a par de tudo e sobre o caso já havia refletido maduramente. Acabou resolvendo não abandonar seus filhos metodistas na América, muito mais agora em situação embaraçosa. Ordenou então alguns presbíteros e um superintendente (bispo) para irem a América para, por sua vez, ordenarem outros presbíteros e outro superintendente na América e assim fundar e organizar a Igreja metodista. Os dois presbíteros ordenados por Wesley, foram Richard Whaticoal e Thomas Vasey, e o superintendente foi Thomas Coke.

Em vista de estes fatos serem narrados mais minuciosamente na história de Thomas Coke (capítulo V desse livro), deixamos de os repetir aqui.

Wesley enviou estes homens no fim do ano de 1784. Lá chegaram aportando em Nova York nos fins de novembro do mesmo ano. Encontrou-os Asbury em Nova Jersey e os acompanhou até a cidade de Baltimore, onde se realizou a notável Conferência denominada “A Conferência do Natal”, pois principiou no dia 24 de dezembro de 1784, na Capela “Lovoly Lane”, em Baltimore. O Dr. Coke tinha instruções de Wesley para ordenar a alguns presbíteros (ministério pastoral ordenado, clerical) e ordenar a Asbury, Superintendente Geral (bispo) do trabalho Metodista na América. Mas Asbury recusou a ordenação antes de o ato ser aprovado pelos pregadores americanos. É o espírito democrático dos americanos refletindo por via de Asbury, democrática e liberalmente no sistema metodista na América. Ele foi gradativamente ordenado diácono, presbítero, e superintendente (bispo). Quando ele e mais doze pregadores americanos foram ordenados, Wesley realmente organizou a Igreja Metodista Episcopal na América. Assim Asbury orçava pelos quarenta anos de idade quando foi ordenado bispo.

1. Estabelecendo a Igreja Metodista e as suas viagens constantes
O Dr. Coke não ficou na América muito tempo. Apenas a visitava quando havia necessidade de o fazer. Dai o peso todo da responsabilidade do trabalho estava sobre os ombros de Asbury.

Não mencionamos até então o fato de Asbury não gozar de boa saúde. Constantemente sofria, e as suas múltiplas viagens ainda mais lhe agravavam os padecimentos. Agora então, colocado oficialmente à testa do movimento, em vez de lhe diminuírem as viagens, tinha de viajar mais do que nunca.
Nós hoje em dia nesta época de tantas facilidades de viajar, não podemos apreciar o grande sacrifício que ele e seus colegas na itinerância tinham de fazer para evangelizar o continente norte americano.

Lendo os diários dele, três volumes de mais de quinhentas páginas cada um, ficamos impressionados com a repetição destas rxpessões: “viajei hoje”, “preguei hoje”, “fui hóspede hoje de fulano de tal”, “fazia muito frio”, “dia chuvoso”, “não tinha lugar para ler ou escrever, nem para meditar”, “estava doente hoje e com febre”, “tinha dor de garganta”, “escrevi cartas”, etc., etc.
Alguma coisa se pode aprender desse exemplo de trabalho. Ele fazia quase anualmente um itinerário que estendia do estado de Maine, Nova Inglaterra, no extremo norte dos Estados Unidos, até ao Estado de Geórgia para o sul do país, e de Baltimore, do Estado de Maryland até aos Estados dos ponteiros de Kentucky, Ohio, Tenesse e Alabama. Asbury não tinha lugar fixo, o caminho era o seu lar.

Era realmente um homem sem lar. Não quis casar, porque não julgava justo casar e depois ter que deixar a esposa sozinha. Lembrava bem um caso de “quem se fazia eunuco por causa do reino dos céus”. E embora não tenha se casado ou tenha tido filhos, era um homem e um Bispo que amava muito as crianças. Entre as muitas famílias que visitava de ano, era notório como era amigo e querido pelas crianças. Tomava-as no colo; contava-lhes histórias e ensinava-as a cantar hinos.

Um dia quando estava nas planícies de Ohio um homem lhe perguntou de onde vinha e ele lhe respondeu: “De Boston, Nova York, Filadélfia, Baltimore, ou de qualquer parte”. Ele foi um dos maiores itinerantes na história do Cristianismo. Chegou na América, meteu-se a caminho e foi até o fim; nunca deixou de viajar. Nunca alugou uma casa para si; viveu na estrada por quarenta e cinco anos. Ele diz: “Tenho viajado tanto que quando tenho de parar um dia, parece-me que estou na prisão. Viajar é a minha saúde, a minha vida e tudo, corpo e alma”.

Viajou mais do que Wesley. Os seguintes extratos do seu diário nos darão idéia de sua vida de itinerância:

“Temos viajado cem milhas por estradas ruins e o calor tem sido severo desde que deixamos Nova York.”

“Viajamos 130 léguas em vinte dias e só descansamos um dia.”

“Meu cavalo tem agora um trote duro, nada há que admirar, porque tenho viajado nele 1610 léguas por ano, e isto por cinco anos seguidos.”

“Andei dezesseis léguas para pregar um sermão, mas acho que não foi tempo perdido”.

“Temos andado quase trinta léguas esta semana neste tempo de inverno quando os dias são curtos e frios. Por que um homem vivo deve se queixar? Mas para estar três meses em seguida nas fronteiras, onde geralmente, só há um quarto, uma lareira, e meia dúzia de pessoas desconhecidas ao redor, e além disso só a família (e as famílias, são geralmente grandes nesta terra nova) fazendo assim uma multidão, e isso não é tudo: pois aqui se tem de meditar, aqui se tem de pregar, ler, escrever, orar, cantar, falar, comer, beber e dormir ou fugir para o mato.”

“Bem! sinto dores no corpo especialmente no quadril, dores que me incomodam bastante, quando ando. Mas eu me consolo cantando os hinos de Carlos Wesley, Watts, Stennett.”

Quando tinha cinqüenta e oito anos de idade, descrevendo uma viagem para Tennesse, ele diz: “Seis meses por ano tenho tido a obrigação de me submeter de quando em quando a certas coisas que nunca serão agradáveis para mim; porém, o povo sempre me mostra muita bondade e consideração. No entanto, bondade não pode fazer um casebre de três metros por quatro, cheio e apertado de gente, ser agradável; lá fora está frio e chovendo, e aqui dentro estão seis adultos e outro tanto de crianças, e uma delas não pode ficar quieta. Até os cachorros por vezes também têm que ser admitidos.”
“Num sábado descobri que tinha apanhado uma doença de pele que me incomodou bastante. Mas considerando as casas e as camas sujas que tenho encontrado, é até curioso que não tenha apanhado este incômodo vinte vezes mais. Não vejo remédio para tudo isto, todavia durmo com uma camisola que tem bastante enxofre.Coitado do Bispo! No entanto temos que suportar por amor dos escolhidos”.

A experiência de Asbury era muito parecida com a do apóstolo Paulo (II Cor. 11:23-33). Ele podia dizer com o apóstolo: “Em trabalhos e fadigas, em vigílias muitas vezes, com fome, e sede, em jejum muitas vezes, com frio e nudez; além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, os cuidados de todas as igrejas”.

Além das viagens constantes tinha o cuidado de todas as igrejas e seus pastores. O peso era bastante para um homem, mas ele estava acostumado às responsabilidades.

O cuidado de todas as igrejas ocupara sempre o seu espírito. Fazia mil e uma coisas para atender a todos os interesses e bom andamento da causa de Cristo. Uma coisa ocupava bastante o seu espírito era a boa disciplina na igreja. Não podia tolerar irregularidades na igreja.

Quanto a isto vimos como ele principiou o trabalho na América. As Sociedades que existiam quando ele chegou na América não tinham sido bem disciplinadas e ele logo que chegou, especialmente, apertara bastante os crentes na sua administração com visitas à disciplina. Acerca da Sociedade em Nova York diz ele: Quando voltei, alguns dos membros se mostraram refratários à disciplina, porém sem disciplina não seremos mais do que uma corda frágil.

A disciplina tem de ser administrada aconteça o que acontecer. Mui cedo notou ele o fraco no trabalho de Whitefield: a falta de disciplina e organização. Dai a resolução que tomou quanto a disciplina e ordem no trabalho na América, e que seguiu fielmente modelando-se nesse ponto no exemplo de Wesley. Lembrou-se também do ditado da Igreja antiga: “A alma e o corpo fazem um homem, e o espírito e a disciplina fazem um cristão”.

Por isso ele fiscalizou as Sociedades e assim escreve no seu diário: “Muitos ficaram ofendidos porque os excluía da Sociedade, mas, importa-me dizer que ficaram viciados muito antes disso. Não me importo, pois com isto. Enquanto eu estiver aqui no cargo, as regras serão observadas. Não posso me conformar com membros que são meio metodistas. Um amigo avançado em idade me disse com muita sinceridade que a opinião do povo tinha se mudado bastante acerca dos “metodistas” e que os Quakers e outras seitas (grupos religiosos) tinham se afrouxado na disciplina e que só os católicos romanos observavam a disciplina com rigidez, porém nada dessas coisas me modificou o modo de pensar sobre isso”.

Havia mais uma luta em que tínhamos de conservar a disciplina na sociedade, e isto foi a questão dos “Sacramentos”. Antes de organizar a igreja em 1784, as sociedades recebiam o batismo e a Santa Ceia das mãos dos párocos anglicanos, mas havia uma corrente forte contra isto; essa corrente composta de diversos pregadores queria agir sem mais nem menos a administrar eles mesmos os sacramentos aos membros.

Mas Asbury se opôs, com toda a sua força e conseguiu evitar a divisão entre as sociedades até que passos seguros pudessem ser dados para estabelecerem um ministério devidamente ordenado, e isto com boa ordem.

Se ele não tivesse evitado essa divisão, a história do Metodismo nos Estados Unidos teria sido diferente do que é hoje em dia. Como se iam aumentar os circuitos e conseguintemente o número de conferências anuais, a questão de concentração de trabalho tornou-se de manifesta importância. Para solucionar o problema, o Bispo Asbury, com apoio de grande número de pregadores, formou o que é conhecido na história da igreja como o “Concílio”. Mas o Concílio só tinha duas reuniões, havendo-lhe ainda oposições. Um dos primeiros membros deste Concílio, James O. Kelly, o presbítero presidente de um distrito do sul do Estado de Virginia, revoltou-se não somente contra o Concílio, mas, também, contra o Bispo Asbury, acusando-o de ambicioso. Isto foi em 1690. Em 1792 o Bispo Asbury convocou uma Conferência Geral, composta de todos os pregadores. Esta Conferência se realizou na cidade de Baltimore.

James O . Kelly tinha formado uma panelinha contra o Bispo Asbury para lhe diminuir o poder eclesiástico. Nesta Conferência Geral James O. Kelly apresentou uma proposta sobre um dos princípios fundamentais do episcopado, dando direito ao pregador de apelar para uma nova nomeação se não ficasse satisfeito com a nomeação feita pelo Bispo. O Bispo Asbury retirou-se da Conferência visto estar presente o Bispo Coke e que podia presidi-la, dando assim toda a liberdade aos irmãos para deliberarem sobre o assunto. Ao mesmo tempo mandou a seguinte comunicação à Conferência: “Alguns indivíduos entre os pregadores têm inveja da minha influência e prestigio na Conferência. Entreguei-lhes inteiramente o negócio sobre que deliberariam presididos pelo Dr. Coke.

Escreve ele no diário: “Ao mesmo tempo mandei-lhe a seguinte carta: Meus prezados irmãos: Não deixeis a minha ausência vos incomodar; o Dr. Coke presidirá. Felizmente estou dispensado de assistir e fazer as leis com as quais tenho eu de governar. Toca-me somente obedecê-las. Posso afirmar com satisfação quando considero que nunca nomeei qualquer pregador por inimizade ou por vingança. Até aqui tenho agido para a glória de Deus, pelo bem do povo e para a promoção de utilidades aos pregadores. Estais vós certos que se vos agradardes ficará o povo igualmente satisfeito?”
“O povo freqüentemente diz: “manda-nos tal e tal pregador”, e às vezes diz: “não queremos tal e tal pregador, preferimos pagar para ele ficar em casa”.
“Talvez tenhais que dizer que o apelo do povo vos obrigou a mandar este ou aquele. Eu sou um, vós sois muitos. Estou pronto para vos servir agora como no passado. Não quero ficar como pedra de tropeço a alguém. Desprezo solícitos votos. Sou uma pobre criatura para ouvir louvores ou censuras. Revelai vossos pensamentos com toda a liberdade; mas lembrai-vos que não estais fazendo leis somente para o tempo presente. Pode ser que, como em algumas outras coisas, assim também nisto o futuro vos possa dar mais luz.”
Assim este homem faz a sua apologia com bastante sabedoria. 

A proposta de James O. Kelly não foi aprovada e, desgostoso, retirou-se da Conferência (a saber, da Igreja Metodista), e com ele alguns dos seus colegas que sobre o ponto estavam de acordo. Não podendo derrotar o Bispo Asbury pela legislação, separou-se da Igreja e levou junto consigo alguns pregadores do seu distrito e fez uma campanha cerrada para arrastar todos os membros da localidade para o seu lado. Mas o Bispo Asbury seguia seu caminho e tinha de atravessar a zona em que James O. Kelly tinha tanta influência, mas não proibia os seus pregadores de pregar e ativar-se. No correr do tempo, na velhice, James O. Kelly ficou desamparado e foi o Bispo Asbury que recomendou que ele recebesse o auxílio de quarenta libras por ano para o seu sustento, como fazia para os outros pregadores.

Julgando pelo modo por que ele agiu no caso de James O. Kelly temos o melhor desmentido às acusações de ambicioso que lhe fizeram os críticos e invejosos de suas vitórias. Que o Bispo Asbury foi firme em administrar a disciplina não podemos negar, porém, acusá-lo de ter ambições pessoais para se engrandecer a si mesmo não o podemos conceber. O que fazia era para a glória de Deus e para o bem estar da Igreja.

Foi na ocasião desta Conferência Geral realizada em 1792, que a autoridade do Bispo para fazer as nomeações foi bem discutida. O resultado da discussão foi que a sua autoridade foi confirmada com votação de uma grande maioria dos pregadores.

O Bispo Asbury nunca se queixou dos pregadores, experimentados, pois sempre aceitaram as suas nomeações sem se queixarem, mas os jovens, às vezes o incomodavam. Ele disse: “Os jovens, os rapazes, me enfadam quando tenho de lidar com eles. Hugo Porter escreveu para esta cidade pedindo uma estação, e assim acrescenta este mal aquele que já tem feito. Terei cuidado com estes rapagões”.

O Bispo Asbury muito cedo no seu trabalho na América se interessou pela educação do povo por meio de escolas. Fundou diversas escolas durante os anos de sua atividade e assim deu ênfase a este ramo de trabalho que tem caracterizado o metodismo em toda parte.
Igualmente não deixou de se interessar pela publicação de livros. Fundou-se até uma casa publicadora em 1789 dirigida por John Dickins. Uma das coisas mais importantes que se encontram no metodismo, é o espírito de conexionalismo.

Ao fim do primeiro ano de administração, Asbury como superintendente geral, na ocasião da primeira conferência que se realizou na América, conseguiu a nomeação dos pregadores para os diversos circuitos que foram criados. Assim os cargos nas cidades foram ligados com os circuitos nos sítios, havendo para todos uma só direção.

Alguns historiadores são de opinião que a Igreja Metodista Episcopal na América teve a sua fundação, portanto, em 1773 e não em 1784, na ocasião da Conferência do Natal. Ao menos podemos afirmar que um dos princípios fundamentais foi reconhecido, sendo lançados os alicerces da nova Igreja nessa ocasião.

Quando estudamos a vida do Bispo Asbury não devemos esquecer do seu espírito missionário que mui cedo se manifestou na sua administração. Celebramos o primeiro centenário da obra missionária em 1919, porém, o espírito missionário, a obra de mandar missionários aos índios, e aos canadenses, se manifestou antes da organização da Junta de Missões de 1819.
Leiamos um lance do seu diário: “Preguei três vezes domingo e tirei uma coleta para custear as despesas de missionários mandados para as fronteiras do oeste. Duas vezes falei sobre o mesmo assunto durante a semana”.
E ao mesmo tempo dois missionários foram mandados para Nova Escócia. Era costume dele levar uma lista para receber ofertas pequenas para aliviar os pregadores necessitados e sustentar os missionários. A maior contribuição que se permitia fazer era um dólar, e seu nome consta como o primeiro contribuinte na última lista que usara antes de falecer.

O Bispo Asbury sabia julgar e valorizar os homens. Ele estudava os pregadores como alguém estuda um livro e raras vezes se enganava a respeito de alguém.
Henrique Boehm, um companheiro de viagem do Bispo assim o descreve acerca deste ponto: “Ele assentado na Conferência olhava através das sobrancelhas grossas e escuras, estudava o rosto e o caráter dos pregadores, não somente por causa da Igreja, mas também para seu próprio benefício. Às vezes me dizia: ‘O pregador tal tem ficado trabalhando tempo demais nas fazendas de arroz ou da Península. Ele está pálido; a saúde dele está sendo ameaçada; ele deve ser mandado para um lugar montanhoso’. Ou ainda: ‘O tal pregador seria mudado sem saber o motivo de sua mudança, e na próxima Conferência aparecia com o semblante mudado e estado de saúde muito mudado’.”
Ele tinha muita simpatia para com os pregadores. Uma vez em 1806 alguns dos pregadores estavam sem roupa e o Bispo Asbury vendeu o seu relógio, paletó e camisa, para os ajudar nas suas necessidades. Vê-se ali como ele tinha simpatia para com os pregadores. Era costume dele quando um pregador morria na sua ausência, voltando para aquele lugar sempre procurava o túmulo do colega de ministério e visitava.

VI – O FIM DA JORNADA

Era costume do Bispo Asbury viajar sem parar, porque não tinha uma casa de moradia alugada, pois não demorava mais de quinze dias num lugar, senão quando a sua saúde não permitia viajar. Nos últimos anos as viagens lhe foram muito penosas, especialmente as que fazia ao oeste das montanhas visitando as fronteiras nos Estados de Tennesse, Kentucky e Ohio.
A última visita que fez às fronteiras foi em 1815. A última Conferência que assistiu foi a Conferência de Tennesse que se realizou em outubro de 1815, em Bethel, perto de Salmon, no Estado de Tennesse, quando teve longa entrevista com o Bispo Guilherme McKendree (que havia sido eleito Bispo da Igreja em 12 de maio de 1808 na Conferência de Baltimore, sendo o primeiro bispo da Igreja com nacionalidade norte-americana), e se despediu da Conferência entregando a responsabilidade de nomear os pastores ao Bispo McKendree.

Assim o Bispo Asbury se exprime: “Domingo ordenei os diáconos e preguei, no que me lembrei do Dr. Coke. Minha vista me falha. Entrego a nomeação dos pregadores ao Bispo McKendree: vou agora retirar os meus pés”.

Asbury tinha visitado o sul dos Estados Unidos trinta vezes no correr de trinta e um anos e queria visitar as regiões novas de Mississipi, porém, o dia estava declinando e a noite se aproximava: estava chegando a hora para descansar.
Foi com muito sacrifício que ele conseguiu voltar para o leste, acompanhado pelo rev. Bonde. Chegaram em Richmond, Virgínia, em março de 1815 , e, no dia 24 desse mês, ele pregou o último sermão na cidade de Richmond. Estava tão fraco que não podia andar e tinha de ser carregado do carro para o púlpito onde lhe arranjaram uma mesa, na qual colocaram uma cadeira em que se assentou para falar ao povo. Falou quase uma hora, tendo de parar de quando em quando, por falta de ar, pois os seus pulmões estavam quase destruídos pela tuberculose. O texto usado foi Romanos, 9:28.

Ele queria chegar a tempo para assistir a Conferência Geral que se realizava em Baltimore em maio, porém as suas forças não lhe foram suficientes para conseguir.

Continuando a sua viagem queria chegar em Fredesicksbury, porém o tempo não era bom e as suas forças iam diminuindo até que teve de ficar em casa de um amigo, George Arnold, umas oito léguas de Fredesicksbury.

Ele estava ciente de que tinha chegado ao fim de sua jornada. Aquela noite não podia deitar para dormir. A tosse aumentou causando-lhe muito sofrer. Queriam chamar o médico, porém não quis, dizendo que o médico não chagava antes do seu fim e nada mais faria senão anunciar a sua morte.

Queriam saber se tinha qualquer mensagem para a Igreja, respondendo ele que tinha dito tudo o que tinha a dizer ao Bispo McKendree e à Conferência.
Às onze horas neste domingo ele perguntou se não era hora de assistir ao culto, e lembrou-se de chamar toda a família ao redor da cama, e o Rev. Bonde cantou um hino fez oração, leu e explicou o capítulo 21 do Apocalipse e durante o culto o Bispo Asbury ficou calmo e sossegado. Terminando o culto pediu que fosse lida a lista de ofertas para os pregadores, assim mostrando o interesse que tinha nos seus pregadores até ao último ato da sua vida.

Ofereceram-lhe um pouco de caldo, mas não pode tomá-lo e, vendo a ansiedade no rosto do Rev. Bonde, levantou a sua mão amortecida mostrando-se alegre, querendo assim consolá-lo. Um pouco depois o Rev. Bonde perguntou se sentia a presença de Cristo, mas o santo valente, não podendo falar, levantou ambas as mãos em sinal do triunfo completo.

Pouco minutos depois, assentando-se à cadeira e inclinando a cabeça sobre as mãos do Rev. Bonde, deu o último suspiro às cinco horas da tarde, no domingo 31 de março de 1816.

Enterraram-no no cemitério da família Arnold, mas, por decisão da Conferência Geral que se reuniu e, maio daquele 1816, resolveu que o corpo do Bispo Asbury fosse enterrado sob o púlpito da Eutaw Street Church, em Baltimore. Ali então repousaram os restos mortais de Asbury por quarenta anos, quando então foram removidos ao “Montr Olivert Cemitery”.

Assim terminou a carreira do dianteiro do metodismo na América.


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