O Evangelista que Marcou Séculos
Billy Graham (1918-2018)
William Franklin Graham Jr. (1918–2018), mundialmente conhecido como Billy Graham, foi muito mais que um pastor; ele foi uma das mais proeminentes figuras do universo cristão e um fenômeno global. Ordenado ministro da Convenção Batista do Sul e notável defensor dos direitos civis, sua carreira de mais de seis décadas o consolidou como um dos líderes evangélicos mais influentes da história.
Ele viajou por quase todo o planeta para falar de Deus, encontrando-se com reis, frequentando gabinetes de presidentes e aconselhando ministros de estado. Discursou para multidões em estádios, parques e teatros monumentais, ocupando espaços em todo tipo de mídia. Sua influência foi tão vasta que, depois do Papa João Paulo II (com quem, inclusive, já esteve), é provável que nenhuma outra personalidade religiosa tenha provocado tanta mídia espontânea, sendo capa das principais revistas americanas como Life, Time e Newsweek. William Martin, seu biógrafo, o apontou como "o líder religioso dominante de sua era".
Infância, Chamado e Formação
Nascido em 7 de novembro de 1918, em uma fazenda leiteira na Carolina do Norte, Billy Graham cresceu em meio à Grande Depressão, aprendendo o valor do trabalho árduo e cultivando uma paixão pela leitura. Sua família presbiteriana o levou à igreja, mas foi aos 16 anos, em 1934, durante uma série de reavivamentos conduzida pelo evangelista Mordecai Ham, que Billy experimentou uma profunda conversão, transformando-o de um "garoto de fazenda tradicional" em um instrumento de Deus.
Após um breve e insatisfatório período na Bob Jones College, ele encontrou seu lugar no Florida Bible Institute, onde se formou em teologia em 1940. Ali, sentiu um chamado claro para pregar o Evangelho. Mais tarde, em 1943, formou-se em antropologia no Wheaton College, onde se ordenou ministro batista e casou-se com Ruth McCue Bell, filha de missionários. Foi nesse período que, após uma luta intelectual, ele decidiu aceitar a Bíblia como a Palavra infalível de Deus, marcando a fundação de sua fé e ministério. Sua pregação raramente se estendia além do terreno das doutrinas fundamentais.
O Ministério em Ascensão: Cruzadas e Alcance Global
Após experiências pastorais iniciais e um breve serviço militar, Billy Graham se juntou à Youth for Christ (YFC) em 1945, marcando o início de sua jornada evangelística. Sua ascensão à fama foi impulsionada pela "Cruzada de Los Angeles" em 1949, que, planejada para três semanas, se estendeu por oito, atraindo multidões e a atenção da mídia nacional, com o apoio do magnata William Randolph Hearst.
Sermões Cristocêntricos e cheios de unção, muitas vezes descritos como vindos de uma "metralhadora de Deus" pela sua intensidade e rapidez, tinham como foco principal: "Jesus Cristo é o único Caminho de Salvação."
Graham liderou centenas de cruzadas em estádios e arenas por todo o mundo. Destacam-se as cruzadas de Londres (1954), Nova Iorque (1957) e a histórica na Austrália em 1959, que abriu um período de evangelização em massa no país. Ele rompeu barreiras, pregando na África do Sul durante o apartheid (onde abertamente o denunciou em 1973) e em países do antigo Bloco Oriental, incluindo a União Soviética, China e Coreia do Norte, sendo um dos poucos a levar a mensagem a esses regimes. Em 1974, pregou para 219.427 pessoas no Maracanã, no Rio de Janeiro, em uma cruzada de quatro dias que reuniu 615 mil pessoas.
Sua última cruzada oficial foi em Nova Iorque em 2005. Ao longo de sua carreira, ele pregou para mais de 210 milhões de pessoas presencialmente, com milhões respondendo ao apelo de aceitar Cristo.
Mídia, Organização e Impacto Duradouro
Billy Graham foi um pioneiro na comunicação religiosa, utilizando rádio, televisão, filmes e, mais tarde, satélites e internet para levar sua mensagem. Em 1950, fundou a Billy Graham Evangelistic Association (BGEA), uma organização sofisticada que gerenciava as cruzadas e produzia conteúdo como o programa de rádio "Hour of Decision" e a revista "Decision". A BGEA também co-fundou a influente revista "Christianity Today". Sua eficácia era notável: a BGEA planejava as cruzadas meticulosamente, e estima-se que 70% a 80% das decisões por Cristo resultavam em vínculo efetivo com uma igreja.
"Ele foi um homem que tinha propósito; a dedicação em vida. Ele sabia para onde estava indo." — Ruth Bell Graham.
Graham publicou mais de 30 livros, muitos deles best-sellers, como "Peace with God" e sua autobiografia "Just As I Am". Sua reputação de idoneidade internacional se cristalizou porque, além de sua paixão por Deus e pela Bíblia e a estabilidade familiar, ele soube se proteger de qualquer suspeita ao entregar a gestão de seu ministério a um grupo capaz. Ele era zeloso em "fugir da aparência do mal" na conduta pessoal e na administração financeira, o que o fez sair ileso dos escândalos de evangelistas nos anos 80. Ele mantinha a postura de um estadista e a simplicidade de um caipira, sendo o mesmo homem na Casa Branca ou em sua casa nas montanhas.
Relações Políticas e Desafios
Conhecido como "o guru dos presidentes americanos" e "pastor da América", Graham foi amigo e conselheiro espiritual de todos os presidentes dos EUA desde a década de 50 (de Harry S. Truman a Barack Obama), influenciando o cenário político-religioso. Ele jogou golfe com Gerald Ford, mergulhou com Lyndon Johnson e George W. Bush o creditou por sua redescoberta da fé.
Apesar de sua influência, Graham enfrentou críticas por sua proximidade com o poder. Ele teve que criticar amigos íntimos como Richard Nixon após o escândalo Watergate, afirmando que as fitas revelavam um homem que jamais conhecera.
Sua postura inicial sobre a segregação racial nos anos 40 a 60, onde pregava para públicos divididos, evoluiu. Com o avanço do movimento de Martin Luther King (a quem ele pagava fiança quando preso), Graham decidiu não mais falar para plateias segregadas, e a partir de 1957, defendeu abertamente a integração racial, permitindo ministros negros em sua equipe.
Ele também se alinhou ao movimento "New Evangelicalism", que buscava um ecumenismo restrito entre evangélicos sem comprometer os alicerces da fé, o que lhe rendeu críticas de fundamentalistas mais rígidos. Embora afirmasse ser apolítico, Graham se envolveu em campanhas, como a de 1960 contra John F. Kennedy por ser católico, um arrependimento que expressou mais tarde. Seus filhos chegaram a contestar seu voto em Donald Trump em 2016, reiterando que o envolvimento em política partidária foi seu maior arrependimento.
Vida Pessoal, Últimos Anos e Legado
Billy Graham casou-se com Ruth McCue Bell em 1943. O casal, unido por quase 64 anos antes do falecimento de Ruth em 2007, teve cinco filhos, incluindo Franklin Graham e Anne Graham Lotz, que seguiram seus passos no ministério.
Na velhice, Graham enfrentou problemas de saúde como hidrocefalia e Mal de Parkinson, o que o levou a uma aposentadoria gradual. Ele faleceu em sua residência em Montreat, Carolina do Norte, em 21 de fevereiro de 2018, aos 99 anos, deixando o mundo consternado. Seu corpo foi velado na Rotunda do Capitólio dos EUA, uma honra rara para um cidadão privado.
O legado de Billy Graham é vasto e sua vida de integridade e seu compromisso com a simplicidade do Evangelho o tornaram um modelo. "Nós somos as Bíblias que o mundo está lendo. Nós somos os sermões que o mundo está prestando atenção." Essa convicção guiou seu ministério. Ele apareceu um recorde de 61 vezes na lista Gallup dos "Dez Homens Mais Admirados do Mundo". Recebeu inúmeras honrarias, incluindo a Medalha Presidencial da Liberdade, a Medalha de Ouro do Congresso e um título de Cavaleiro Honorário da Rainha Elizabeth II. Quando perguntado por Sir David Frost como gostaria de ser lembrado, respondeu: "Como uma pessoa que teve integridade, que foi fiel ao seu chamado e que amou a Deus com todo o seu coração, mente e alma."
Bibliografia
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SANCHES, Luiz Francisco. Billy Graham é considerado o maior evangelista de todos os tempos. In: MOVIMENTO GOSPEL 4, jul. 2012. Disponível em:
WIKIPEDIA. Billy Graham. Disponível em:
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